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    Antonio Delfim Netto

    Experiências

    08/10/2014 02h00

    Somos hoje no mundo cerca de 150 países emergentes. Cada um vivendo sua vida condicionado por sua geografia e sua história. Todos procuram formas de organizar-se que permitam às suas populações apropriarem-se dos benefícios que a rápida evolução tecnológica combinada com o sufrágio universal proporcionou às 15 nações hoje realmente desenvolvidas: alta renda per capita em liberdade individual.

    A vantagem que o Brasil tem é a de chegar atrasado no cenário. Com isso pode escolher e tentar reproduzir o "melhor" caminho que as levou ao elevado nível de desenvolvimento material e de liberdade de que gozam hoje suas populações. Já temos as instituições políticas que garantem os direitos individuais e asseguram a plena liberdade de nossos cidadãos. E temos um bônus na economia.

    Por chegar mais tarde podemos prevenir e tentar corrigir algumas das suas dificuldades. De fato, elas apresentam graves problemas de desigualdades e são sujeitas a flutuações do nível de emprego que estressam os seus cidadãos. É preciso reconhecer, entretanto, que não existe "curto-circuito" para cortar caminhos.

    As experiências tentadas –1) de organizações políticas sugeridas por cérebros peregrinos, que ignoraram a evolução social quase natural revelada na longa e sofrida história do homem, combinadas com 2) a organização da economia pelo voluntarismo, que ignorou também as restrições impostas pela complexidade crescente de construir mecanismos eficientes de coordenação para atender às necessidades dos indivíduos sem comprometer a sua liberdade– foram muitas e duradouras, mas sempre terminaram muito mal.

    Primeiro, destruíram a humanidade do homem tomando-lhe a liberdade que prometeram aumentar e, depois, produziram o caos por não ter o que colocar no lugar daquele mecanismo de coordenação produtiva que vem sendo aperfeiçoado há séculos, num processo seletivo exercido pelo próprio homem. Até hoje seus epígonos não entenderam, sequer, a sua necessidade.

    É importante reconhecer que essas experiências foram feitas ou à força em revoluções "libertadoras" ou autorizadas pelo sufrágio universal, quando os cidadãos –pela falta de educação crítica– as apoiaram. A explicação para isso é que a verdade só é conhecida tarde demais...

    A boa notícia é que tais aventuras têm prazo de validade. Se as instituições são suficientemente fortes para manter em livre funcionamento o sufrágio universal, os eleitores vítimas da experiência e educados por ela, aprendem e conformam-se com o sacrifício necessário para voltar ao curso normal do processo civilizatório.

    ideias.consult@uol.com.br

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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