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    Antonio Delfim Netto

    Solidariedade

    08/07/2015 02h00

    Na semana passada, uma consulta de opinião pública revelou que apenas 9% dos brasileiros avaliam o governo de Dilma Rousseff como "ótimo ou bom". Isso deu margem a algumas conclusões perigosas. Chegou a hora de ela "ir embora", seja lá como for: um impeachment ou uma renúncia! Discute-se discretamente nos palácios e abertamente nos bordéis que é preciso preparar o caminho. Os conspiradores esperam "garantias" de como se distribuirá o poder vacante para antecipar a formação de uma "sólida maioria" que todos sabemos vai, na prática, rapidamente "desfazer-se no ar". A situação está estranha e confusa. O Executivo tenta desesperadamente reconstruir sua liderança com "marketing" de programas com focos duvidosos. O Legislativo recuperou o seu protagonismo, o que é muito bom para o fortalecimento da democracia, mas tem sido, eventualmente, vítima do infantilismo próprio de diretório acadêmico. O Judiciário –que é o "garante" do sistema e de nossas liberdades– aproveitou-se da situação e forçou a barra do Tesouro.

    Talvez seja bom lembrar aos pescadores de águas turvas que, como ensinou Horácio nas "Odes", "prudentemente, os Deuses escondem no mais profundo nevoeiro os tempos futuros". O que vai acontecer tem que ser resultado claro, transparente, objetivo e legítimo do bom funcionamento de nossas instituições e não o resultado da esperteza e oportunismo de maiorias eventuais. Se houve desvio de conduta ela tem que ser materialmente comprovada. Para isso, a contribuição de "pesquisas de opinião" ou "panelaços" barulhentos de quem votou mal é imprestável.

    A conjuntura mundial está complicada. Não há segurança de que os EUA assistem a uma recuperação robusta; de que a China e a Índia vão conservar o menor, mas ainda importante crescimento; de que a Eurolândia (nosso maior importador) vai acelerar seu crescimento; de que o descontentamento justificado contra o excesso de "austeridade" na Eurolândia não se reflita em novas experiências políticas. Tudo resultado de erros internos. No Brasil, também pagamos o preço de erros internos que não serão mitigados pela conjuntura externa. Só nos resta, portanto, reconhecê-los e juntarmo-nos para superá-los, mas isso não passa pela interrupção inconsequente do bom funcionamento de nossas instituições.

    Peço licença à Folha para me solidarizar com o artigo do ilustre ex-ministro Guido Mantega, "Sobre intolerâncias", publicado em 5 de julho. Meu caro amigo, não se apoquente: o que lhes falta não é tolerância, é educação, o que lhes sobra, é arrogância. Ambas produtos familiares...

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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