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    Antonio Delfim Netto

    Será o fim

    02/03/2016 02h00

    Deveria ser evidente que o conhecimento de como funciona o sistema econômico de qualquer sociedade é um problema empírico. Não pode ser deduzido teoricamente porque a evolução de qualquer organização política e do necessário sistema econômico nela embebido são historicamente contingentes. Portanto, não é possível deduzir relações de comportamento dos seus agentes à imagem das "leis" naturais que habitam o mundo físico que, numa certa medida, são atemporais e a-históricas.

    É tempo de reconhecer com clareza que passou o momento de crer nas "grandes teorias" concebidas por brilhantes cérebros peregrinos que pensaram ter "descoberto" as leis da história. Uma teoria sem um fato é tão inútil quanto um fato sem uma teoria.

    As mais encantadoras das "grandes narrativas" continuam a sobreviver, mas apenas como um componente residual na "cultura" que nos identifica. É tempo de aceitar o fato de que as populações estão cansadas e desacorçoadas com os sofrimentos impostos pelo pensamento mágico, que sugere transcender as condições físicas que as constrangem, com o apelo à ilusória "vontade política", pois eles sempre terminaram no "populismo" barato que, no final, sai-lhes muito caro...

    Neste instante em que o país testemunha as trágicas consequências de uma política econômica voluntarista. Mesmo o indivíduo mais modesto "sente" que o único caminho que lhe resta é encontrar um emprego remunerado e continuar a receber um apoio que lhe dê proficiência funcional e lhe permita, com seu próprio esforço, conquistar a cidadania.

    Mas todos "sentem" que isso só acontecerá se for restabelecida a confiança entre a sociedade e o poder incumbente que, com as informações então disponíveis, ela mesma elegeu. É condição necessária (ainda que não suficiente) para a retomada do crescimento sustentável e inclusivo.

    É insensato, por outro lado, negar que, de 2003 a 2011, beneficiado por uma excepcional expansão externa, o Brasil melhorou: cresceu em média 4,1% ao ano – 40% acumulado –, aumentou a igualdade de oportunidades, reduziu a desigualdade, manteve a inflação relativamente controlada, gerou superavit primário médio de 3,1% do PIB e estabilizou a relação dívida bruta/PIB (após reduzi-la) em 52% do PIB. Infelizmente, para controlar a inflação, valorizou a taxa de câmbio e destruiu a indústria nacional!

    Uma enorme miopia ideológica a partir de 2012 impediu que o governo visse que as condições objetivas tinham mudado e que era hora de também mudar a política econômica. Insistir na mesma foi um erro. Aprofundá-la, como sugere o "Programa Nacional de Emergência" do PT, será a destruição final do governo de Dilma Rousseff.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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