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    Antonio Delfim Netto

    Urgência

    30/03/2016 02h00

    As recentes manifestações do governo e da oposição têm obscurecido o que nos aconteceu e de quem é a responsabilidade pelo acontecido.

    É bom insistir que Dilma fez um excelente trabalho em 2011 e terminou muito bem avaliada pela sociedade. Misteriosamente, o governo se perdeu em 2012. Realizou intervenções muito mal concebidas e, pior, muito mal executadas.

    Terminou o ano com a fantástica alquimia que transformou dívida pública em superavit primário, o que destruiu sua credibilidade.

    No início de 2014, à medida em que esquentava o processo eleitoral, o governo foi confrontado com uma perspectiva de redução da taxa de crescimento do PIB. Era ano eleitoral, e Dilma decidiu radicalizar para reeleger-se.

    No final de 2014 –depois de bem sucedido nas urnas–, viu-se forçado a apresentar a conta da reeleição: o crescimento do PIB per capita de 2% em 2013 reduziu-se a menos de 0,8% em 2014; o deficit fiscal cresceu de 3,1% para 6,2% do PIB; o superavit primário de 1,7% do PIB foi transformado no deficit primário de 0,6% e a relação dívida bruta/ PIB saltou de 52% para 57% do PIB.

    Foi uma desilusão terrível para os seus eleitores. Os que lhe negaram o voto viram a confirmação de tudo que ela negara na campanha e sentiram o peso do desequilíbrio fiscal estrutural que anunciavam os seus concorrentes.

    Reeleito e desenxabido, o governo escolheu, sem convicção, o programa da própria oposição. Entregou a sua execução a um excelente profissional. Este, desde o primeiro dia, teve a oposição do partido da presidente, o PT.

    A confusão foi tal que, em poucas semanas, Dilma, que fora eleita com um pouco mais do que um terço dos votos válidos, perdera dois terços deles. Desde então, tem uma aprovação (ótima/ boa) de apenas de 10% dos eleitores.

    O resultado de 2015 foi pior: o PIB per capita caiu 4,7%, o que ajudou a produzir um deficit primário de 1,9% do PIB, um deficit fiscal de 10% do PIB e um aumento da relação dívida bruta/ PIB para 66%.

    Se o Executivo não encontrar forças para impor o seu protagonismo e apresentar as reformas constitucionais que corrigirão no futuro visível o desequilíbrio fiscal estrutural em que estamos metidos, é provável que 2016 repita as dificuldades de 2015.

    Talvez tenhamos uma nova redução do PIB per capita da mesma ordem, um deficit fiscal e um deficit primário parecidos, o que elevará a relação dívida bruta/ PIB para qualquer coisa parecida com 74% do PIB. Por que tantos números? Porque eles governaram o Brasil e revelam como ele foi governado!

    O tempo urge. É preciso que a política salve a si mesma e a economia.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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