• Colunistas

    Monday, 06-May-2024 05:52:41 -03
    Antonio Delfim Netto

    Profecia

    20/04/2016 02h00

    O Brasil vive um momento triste e angustiante. É o resultado de uma acumulação de equívocos quase inacreditáveis no tratamento da política e da economia. Eles acabaram se autoestimulando e produziram uma disfuncionalidade organizacional que precisa ser enfrentada com energia e urgência.

    O Poder Executivo perdeu a confiança de uma maioria significativa da sociedade e, com isso, o seu protagonismo e sua capacidade de coordenar o Poder Legislativo para aprovar as medidas corretas para enfrentar os graves problemas que temos pela frente.

    O exemplo mais claro disso é que nem sequer o razoável programa proposto pelo ministro Nelson Barbosa (aparentemente com o apoio da presidente) pode ser aprovado.

    A objeção não veio da fraca "oposição", mas do seu barulhento partido, o PT, que a rigor nunca teve qualquer proposta para construir uma sociedade civilizada em um regime de verdadeira liberdade individual.

    Infelizmente, depois do sucesso da reeleição, a presidente manifestou uma arrogante alergia à negociação legítima com os outros partidos da sua base, que é quem sustenta o governo no precário presidencialismo de coalizão a que fomos empurrados por um sistema eleitoral que anda de costas para a realidade.

    Não se sabe por inspiração de quem Dilma Rousseff meteu-se, imprudentemente, na disputa da presidência da Câmara dos Deputados contra o segundo maior partido de sua base. Perdeu! Viu extinguir-se, lentamente, a sua capacidade de impor sua agenda ao Legislativo.

    No campo da economia, o desastre não foi menor. Depois de uma excelente administração em 2011, quando corrigiu alguns excessos do ex-presidente Lula, Dilma iniciou um insensato intervencionismo voluntarista com a destruição do setor elétrico, com a baixa dos juros reais sem os alicerces fiscais necessários, com a valorização do câmbio para combater a inflação e com o inacreditável prejuízo imposto à Petrobras e ao setor sucro-energético.
    Assustou e destruiu a confiança do setor privado que, pragmaticamente, reduziu seus investimentos.

    Esses fatos mostram como é inútil procurar efeitos externos (que existem) para explicar a tragédia em que estamos metidos.

    Ela é filha legítima da falta de habilidade política e da desastrada política econômica do período entre 2012 e 2014, que em 2015 levou a uma queda do PIB per capita de 4,8%. Se nada for feito -e rapidamente - é bem provável que a profecia hoje corrente, de que no final de 2016 o nosso PIB per capita será igual ao de 2009, se realize.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024