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    Antonio Delfim Netto

    Reformas

    11/05/2016 02h00

    Há alguma coisa no ar e não são apenas os urubus que infestam nossos aeroportos. Na semana passada, três bancos que detêm excelentes departamentos econômicos ou confirmaram suas visões de que em 2017 o PIB crescerá (1,5% segundo o Bradesco) ou alteraram suas perspectivas: o Itaú elevou sua estimativa de 0,3% para 1% do PIB e o BNP Paribas, de 0% para 2%!

    Não há outra explicação para esse fato que não seja a captura (por suas pesquisas proprietárias) do "sentimento" disseminado no setor privado de que a eventual assunção à Presidência do vice-presidente Michel Temer produzirá a volta da governabilidade e a melhoria na economia. Temer tem insistido que o problema econômico é muito grave, mas que a sua solução está diagnosticada e à vista. E que, para executá-la, não faltam economistas talentosos.

    O que falta, então? É a construção de uma sólida maioria no Congresso Nacional (na Câmara e no Senado) que defenda e aprove as reformas constitucionais que reconstituirão as esperanças da sociedade. Ele precisa desmoralizar a narrativa da esquerda "infantil" que se aboletou no governo de que vai reduzir os programas sociais. Ele precisa insistir que é apenas seu "parasitismo" que vai ser fiscalizado, em benefício do verdadeiro interesse do trabalhador comum e desorganizado.

    É preciso repetir à exaustão. Nenhum direito adquirido será violado. As reformas não são "maldades". Pelo contrário, são "benignidades" indispensáveis para que voltemos a crescer. Esta é a condição necessária (ainda que não suficiente) para melhorarmos a igualdade de oportunidades de todo cidadão em um regime de liberdade iniciativa, o que, consequentemente, beneficiará todos os trabalhadores, não importando o lar em que nasceram, sexo, cor, religião ou nacionalidade.

    O eventual governo de Michel Temer e sua eventual maioria vão ter que encarar de frente o problema de mostrar à sociedade brasileira que, ao contrário do que afirma o pensamento "mágico" que nos levou à tragédia em que vivemos, são exatamente as reformas bem feitas que garantirão, no futuro, os "direitos adquiridos".

    Nosso problema é político e só um novo governo com a maioria sólida e estável no Congresso poderá começar a resolvê-lo. O Brasil não precisa de um governo de "gênios", mas de um governo de políticos competente com sensibilidade para a economia e coragem para fazer o que deve ser feito.

    A alternativa será a inexorável desorganização social que nos espera se não o fizermos e que, provavelmente, nos tirará não só os "direitos adquiridos", mas também a nossa liberdade...

    ideias.consult@uol.com.br

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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