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    Antonio Delfim Netto

    Cultura

    25/05/2016 02h00

    Alguém duvida da importância da "cultura" na construção de uma sociedade civilizada? Alguém acredita que haja uma incompatibilidade essencial entre a Educação e a Cultura? Alguém, honestamente, crê que juntá-las sob o mesmo teto para maximizar a sinergia do conjunto é minimizar a transcendência da Cultura?

    O ex-ministro da Educação e Cultura do governo interino do presidente Temer, o ilustre deputado federal, Mendonça Filho, é um político com provada competência administrativa: 1º) ocupou diversos cargos executivos no governo de seu Estado, Pernambuco, onde chegou a ser governador bem avaliado e 2º) na sua volta à Câmara, foi um eficaz coordenador da oposição parlamentar aos governos do Partido dos Trabalhadores, mas votou com Dilma nos projetos em que não havia dúvida sobre onde estava o verdadeiro interesse nacional.

    Sob a intensa gritaria dos que se supõem portadores do monopólio da "cultura", Mendonça viu seu ministério ser amputado, para que o governo interino não tivesse o dissabor de ter que despender muita energia e, no fim, amargar uma derrota no Congresso. O que seria seu secretário, Marcelo Calero, foi promovido a ministro da Cultura, em resposta ao ranger dos dentes do mais vocal, simpático e bem situado corporativismo.

    Houve farta diversão e amplo diversionismo, mas nada substantivo realmente aconteceu. Fomos, voltamos e ficamos no mesmo lugar! Todos são contra o absurdo número de ministérios, principalmente os dos "outros"... Reconheçamos. Nenhum programa, muito menos a "Cultura", esteve sob o menor risco a não ser, talvez, "simbólico", de sofrer qualquer dano e nem tem agora qualquer perspectiva de conseguir mais recursos. Pelo contrário. Se existe alguma economia na fusão dos dois ministérios, o que é de esperar, o apoio ao desenvolvimento cultural poderia ser reforçado pela maior eficiência dela resultante.

    O que se pode garantir é que nunca mais um governo descuidado tentará lançar a necessária luz do sol sobre a relação custo/benefício do envolvimento incestuoso do Estado e o corporativismo que dele se alimenta.

    Tudo isso é irrelevante e não ajuda a resolver o problema do Brasil. Tendo mudado duas vezes em um ano seus ministros da Fazenda, ambos membros competentes, mas de seitas distintas que se abrigam sob a disciplina chamada economia, e revelando uma total indisposição para o exercício da política, a presidente Dilma não conseguiu recuperar o seu protagonismo. Os números que aos poucos vão sendo revelados mostram que há pouca probabilidade de que volte a recuperá-lo.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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