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    Antonio Delfim Netto

    A soma dos 'interesses' não cabe no PIB

    10/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O relator Arthur Oliveira Maia comemora com colegas governistas a aprovação do texto-base da reforma da Previdência, em Brasília
    Deputados comemoram a aprovação do texto da reforma da Previdência em comissão especial

    Sob o aspecto dos interesses, cremos que a transmissão ao vivo das sessões do Congresso Nacional (canais 3 a 10) sejam imperdíveis para quem pretende decifrar as dificuldades que estamos atravessando.

    Quando assistimos à conflagração de argumentos a respeito de um problema objetivo, bem caracterizado e produto natural da demografia —a óbvia impossibilidade de realizar, ao mesmo tempo, um robusto crescimento econômico inclusivo e generosas Previdência e assistência sociais, porque os recursos de que dispõe a sociedade são finitos—, somos obrigados a aceitar que a seleção natural desenvolveu o cérebro humano para buscar a sua sobrevivência, e não "filosofar".

    Milhões de anos de seleção privilegiaram o portador do cérebro capaz de antecipar os "riscos" que no mundo físico e humano o ameaçavam e, assim, deixar descendentes. Seu objetivo, o seu "interesse", estava na sua sobrevivência e no seu sucesso reprodutivo, como qualquer outra espécie na natureza.

    É difícil aceitar que a digna "maioria" da oposição é oposição porque tem uma visão alternativa do mundo. Ao contrário, as suas "convicções" escondem o seu "interesse". Para fazê-lo, tem que assumir uma "fé religiosa" que abomina toda a evidencia empírica e, ao fim, em desespero histérico, recusar a aritmética e a evidência empírica.

    A prova disso é que ela é fortemente constituída por funcionários públicos beneficiários de direitos "mal" adquiridos em administrações que somaram a covardia ao laxismo. Apenas revelam o óbvio: na sua escala de valores, seu "interesse" pretere a lógica do teorema de Pitágoras que aprenderam no colegial.

    E quem é a "minoria" dos opositores? Os falsos sindicatos, que desde Vargas foram instrumento auxiliar do Estado. Hoje, sabemos que são ainda pior. Aproveitando-se do monopólio da unicidade e do imposto sindical, do qual não prestam contas a ninguém, vendem-se, às escancaras, ao patronato! Aqui não há disfarce nem sofisticação: defendem os seus "interesses" cínica e primitivamente.

    E os que defendem as "reformas" não têm "interesses"? Claro que sim! Basta ver, por exemplo, como defendem os juros subsidiados, os incentivos "mal" adquiridos e resistem ao aumento bem calibrado do imposto sobre a renda do capital etc.

    Tudo isso apenas revela que nosso cérebro é especialmente esperto. Esconde nosso "interesse" sob o manto da razão. Então, qual é o problema? É, de novo, uma questão aritmética: a soma dos "interesses" não cabe no PIB! Essa não é uma questão econômica. É uma questão política, que numa democracia deve ser arbitrada por maioria qualificada no Congresso Nacional.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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