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    Antonio Delfim Netto

    Reforma é lufada de oxigênio nas relações entre trabalho e capital

    19/07/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    BRASILIA, DF, BRASIL, 11-07-2017, 12h00: As senadoras pediram marmitas para as assessorias e almoçaram na mesa da presidência. Senadoras da oposição fazem obstrução e tentam impedir a votação da reforma trabalhista no senado federal. Elas sentaram na cadeira do presidente do senado e não deixaram o presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) iniciar a sessão. Houve um impasse entre Eunício e os senadores da oposição e a presidência ordenou o desligamento das luzes do plenário. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Às escuras, senadoras almoçam na mesa da presidência do Senado, em protesto contra reforma

    A última semana foi pródiga em revelar que parte de nossos políticos nunca amadurece. Eles não conseguem superar o comportamento infantil e irresponsável que nos caracterizava no início da vida adulta, quando disputávamos o "poder" nas furiosas lutas em nossos centros acadêmicos. Valia tudo, até apagar a luz e roubar a urna!

    É natural que minorias que se creem iluminadas pelo pensamento "salvacionista" (que lhes revela antecipadamente o futuro) respondam com violência a qualquer resistência à "salvação", como, por exemplo, ocupando a mesa do Senado e, no escuro, almoçando uma "marmitinha".

    A aprovação da chamada "reforma trabalhista" é uma lufada de oxigênio nas relações entre o "trabalho" e o "capital", depois do avanço civilizatório promovido pela CLT, há 70 anos, mas que "criou" sindicatos com monopólio geográfico e receita segura (o imposto sindical). São apenas "correias de transmissão" dos desejos do governo e, portanto, imprestáveis para defender os interesses dos trabalhadores que o incomodam.

    A nova lei não é uma panaceia que vai aumentar o emprego imediatamente, mas certamente permitirá relações mais razoáveis entre o "capital" e o "trabalho". Tal cooperação tem soma positiva, o que aumentará a produtividade do trabalho (a definição de desenvolvimento econômico) e gerará uma distribuição mais equânime do produzido. Aprová-la foi o mais fácil de nossos problemas. Pô-la em prática contra a vontade da Justiça do Trabalho, do "sindicalismo pelego" e da ambiguidade de alguns de seus dispositivos exigirá um longo trabalho.

    Talvez o maior avanço a respeito das relações "trabalho" x "capital" seja a rejeição do axioma implícito na CLT e defendido com unhas e dentes pela Justiça trabalhista: todo trabalhador é um hipossuficiente, incapaz de defender os seus próprios interesses, e todo capitalista é, naturalmente, um ladrão.

    O equilíbrio se faz introduzindo a arbitragem do governo, que é o onipresente, onisciente e onipotente provedor da justiça. É difícil entender, aliás, por que só quem ganha mais do que R$ 11 mil por mês perdeu tal privilégio!

    Setenta anos de CLT deram nisto: 17 mil sindicatos gozando do monopólio geográfico e da segurança financeira, tão acomodados e seguros que podem até servir ao "capital" contra os interesses dos seus associados, como se provou na Operação Lava Jato. Uma coisa é, de fato, segura: a lei, para funcionar, exige paridade de poder entre o trabalho e o capital, ou seja, exige: 1) uma revolução na lei eleitoral que proteja o Congresso da sua apropriação pelo capital e 2) a criação de sindicatos "naturais" competitivos e financeiramente independentes.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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