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    Antonio Delfim Netto

    Até agora, só conhecemos ridículas bravatas dos presidenciáveis

    25/10/2017 02h00

    Chama-se "desenvolvimento econômico" o aumento continuado de quantidade de bens e serviços à disposição da sociedade numa unidade convencional de tempo.

    Imagine uma tribo nômade de colhedores de alimentos, num espaço físico limitado que define como seu. O que é, para ela, o "desenvolvimento econômico"? É a quantidade de frutos que pode "colher" na produção natural espontânea no seu território de acordo com a variação climática (que impõe o nomadismo). Ela só pode crescer por dois caminhos: 1º) aumentando a "eficiência" da colheita ou 2º) descobrindo novas fontes comestíveis.

    Um exemplo do aumento da "eficiência" é poder colher os frutos que não estão ao alcance da mão, "inventando" uma escada, por exemplo. Isso exige a "imaginação" de alguém do grupo e a aceitação que alguns membros da tribo se dediquem à sua construção em lugar de colher frutos. Quando estiver pronto, o que será a "escada" para o grupo? Um "bem de produção", isso é, trabalho "morto" cristalizado num objeto que, quando usado pelo trabalho "vivo", aumenta-lhe a produtividade.

    O "aumento da quantidade de bens e serviços à disposição da sociedade" (o desenvolvimento) é apenas o resultado físico do aumento permanente da produtividade do trabalho. Isso dará origem, com o passar do tempo, a uma divisão da sociedade: colhedores (consumo) e produtores de escada (investimento), com formidáveis consequências sociais e econômicas.

    Pois bem. Pelo menos 15 mil anos nos separam dessa sociedade imaginada, mas a dinâmica do desenvolvimento é essencialmente a mesma. Ele é o apelido do "aumento da produtividade do trabalho" e continua a depender da quantidade e qualidade dos "bens de produção" alocados a cada trabalhador com capacidade para operá-lo. Na linguagem moderna, "a quantidade de bens e serviços à disposição da sociedade" é o Produto Interno Bruto (PIB), dividido entre bens de consumo e bens de investimento.

    Se a produtividade de cada trabalhador depende da quantidade e qualidade do "estoque de capital que lhe é alocado", o crescimento econômico exige que ele cresça (pelo investimento) mais do que a mão de obra empregada, ou seja, deve haver uma harmonia entre o consumo e o investimento. Esse é o problema não trivial a ser resolvido —dentro de qualquer estrutura produtiva— por quem detém o poder político na sociedade.

    O que se espera, portanto, são as soluções concretas para nos tirar das trevas dos aspirantes à Presidência em 2018. Até agora, infelizmente, só conhecemos ridículas bravatas e decepcionantes conversas "para boi dormir" de cada um dos pretendentes. Precisamos de alguma luz no horizonte.

    antonio delfim netto

    Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
    de São Paulo.
    Escreve às quartas-feiras.

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