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    Barbara Gancia

    Pesadelo é coisa do passado!

    19/04/2013 03h00

    Alguém aí saberia dar um reca­do em coreano chosono, que vem a ser a língua falada na Coreia do Norte?

    Faz tanto tempo que não vou para lá, que me estreparia toda se tiver de mandar eu mesma. Minha pro­núncia está tão enferrujada que não saberia se estou pedindo uma vodca em russo ou um chá em man­churiano. Na última vez em que es­tive em Pyongyang, o Kim no poder ainda era o pai de Jong, que vem a ser o progenitor do atual Sung.

    Ai, que saudades da Guerra Fria! Era tão mais fácil quando os moci­nhos estavam do nosso lado, anda­vam de Aston Martin e cheiravam a Brutt. E nós deixávamos as crises existencialistas, as brochadas e o ca­checol que pinica para o lado de lá da cortina de ferro com os arruaceiros do Baader-Meinhof e a histérica da Oriana Fallaci -eita mulherzinha insuportável, aquela escritora de best-seller.

    Veja bem: sempre andei com todo tipo de gente, sempre fui mulher de várias turmas. E, depois que o Cos­ta-Gavras largou a Oriana, adivinha se não ela encanou comigo?

    A mulher deu para querer pegar todo santo namoradinho que eu conseguia arrumar a duras penas. Nem mesmo Carlos, o Chacal, ela deixou escapar. E olha que o Carlos, o Chacal, era uma espécie de Xico Sá da época, a gente só encarava quando até o Charles Manson já ti­nha desmaiado atrás do sofá de tan­to tomar cleriquot de cidreira e LSD (era um drinque da moda em Punta, sabe?).

    Mas eu ia dizendo. Já tive meus momentos na Embaixada da Fran­ça em Pyongyang com Sartre, Simo­ne, Mao, a sra. Mao (mal-humorada essazinha dessa china, não me ad­mira que tenha acabado tão embu­racada) e o casal Kim e dona Kim.

    E é por isso, por conhecer tão bem os avós do querido Kimucho, que eu queria sugerir a ele, ditador amado, um dos últimos de uma no­bre estirpe que faz tanta falta, os ditadores, que, em vez de mirar seus mísseis para as bases norte-americanas em Guam, que pensasse com carinho na possi­bilidade de mandar uma bomba atômica expressa na direção das ilhas Cagarras, bem na frente do li­toral que vai dar ali no Leblon, Gá vea, Horto, sei lá, pode chegar até Botafogo, que seja.

    Não, não tenho nada contra o ca­rioca "per se". Ao contrário, como boa paulistana recalcada, morro de inveja daqueles corpos dourados sem um pingo de gordura que levi­tam pelo calçadão diante de minha barriga leitosa e cheia de marcas.

    Acontece que soube pela Danuza que os donos de 250 cadeiras cati­vas do Maracanã estão indo à Justi­ça para garantir o direito de assistir aos jogos da Copa sentadinhos em seus lugares de direito.

    Vem cá: em que mundo eles vi­vem? O evento pertence e foi ven­dido à Fifa. Só eles não sabem? O Brasil está realizando um evento internacional, e os bacanas querem garantir o deles, só o deles, a indivi­dualidade deve prevalecer, é isso?

    Ora, que belezuca! Pois os donos das cativas do Maraca deveriam ser apresentados ao pessoal de mente aberta de Higienópolis, bairro aqui de São Paulo, que foi contra a cons­trução de uma estação de metrô por não querer a circulação de gente "diferenciada" no seu bairro.

    Essa gente que insiste em viver agarrada a um passado de injustiça é a mesma que não entende porque os índices de violência continuam a subir, e que não faz o menor sentido baixar maioridade penal para mu­dar isso. O único jeito de interromper um pesadelo é acor­dando, não?

    barbara gancia

    Escreveu até maio de 2014

    Mito vivo do jornalismo tapuia e torcedora do Santos FC, detesta se envolver em polêmica. E já chegou na idade de ter de recusar alimentos contendo gordura animal.

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