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    Benjamin Steinbruch

    Perguntas

    06/05/2014 02h00

    A cinco meses da eleição presidencial, o debate entre situação e oposição não poderia estar mais aquecido. Mas esse aquecimento só ocorre na área político-eleitoral. Não passa um dia sem que denúncias sejam comentadas pelos possíveis candidatos e seus assessores e apoiadores.

    Ainda que algumas dessas acusações, de lado a lado, já tenham cansado a nossa paciência pelo excesso de repetição e pela falta de avanços, elas são bem-vindas. Referem-se a um passado recente na gestão pública do país e precisam ser cuidadosamente apuradas para que eventuais culpados sejam responsabilizados e para que não se repitam.

    Mas e o futuro do país? Pouco, quase nada se discute com profundidade sobre isso. Talvez pelo predomínio de longos anos de ideais neoliberais, o planejamento esteja fora de moda –os mercados globalizados é que ditam os rumos dos países.

    Não concordo com essa tendência. Quem tem a pretensão de governar o país precisa dizer quais são seus planos para o futuro, porque cabe aos brasileiros, e não às forças de mercado, conduzir o Brasil.

    Algumas perguntas são indispensáveis para os que pretendem ser candidatos a governar o país. Qual será sua meta para o crescimento econômico e para a criação de empregos durante os quatro anos de governo? Como pretende atingir essa meta? Vai combater a desindustrialização que já é visível no país ou encara o problema como uma fatalidade? Vai caminhar para tornar o Brasil um grande produtor apenas de commodities industriais e agrícolas, tendência que vem se acentuando perigosamente nos últimos anos? Vai acreditar em planejamento? Vai incentivar investimentos produtivos?

    Vai privilegiar setores industriais com nítida vocação nacional? Ou vai manter a tradicional política brasileira que estimula e rentabiliza o investimento financeiro muito mais do que em qualquer outro lugar do mundo?

    Não adianta apenas defender programas como o Bolsa Família ou outros voltados para a distribuição de renda. É preciso dizer claramente quais políticas sociais vai adotar e como pretende batalhar para tornar a sociedade cada vez mais igualitária. Ou então esclarecer se pretende deixar isso para o mercado resolver com suas próprias forças.

    O candidato vai interferir diretamente na educação, na segurança, na saúde? E de onde virão os recursos para isso? Continuará de um lado gastando sem escrúpulos R$ 200 bilhões por ano no pagamento de juros da dívida e de outro fazendo cortes em gastos essenciais, como as remunerações de professores ou atendimento médico à população?

    Qual será a política de juros? Acha que o Brasil pode continuar sendo o líder mundial no campeonato do juro alto? E a política de crédito? Pretende continuar com a política dos "eleitos" para consumir os poucos recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou reduzir ainda mais seu papel? Se sim, como vai incentivar o setor financeiro privado a participar com recursos próprios do financiamento de longo prazo?

    Governar um país certamente não é um passeio no parque. É preciso ter competência, sonhos, ousadias, utopias, planos, ideologia, equipes e, principalmente, uma enorme disposição de trabalho para empurrar as mudanças que precisam ser feitas. Não dá para sentar na cadeira e depois pensar no que fazer, como fazer e como viabilizar politicamente o que pretende fazer. Todos sabemos que o país já pagou demais no passado por experiências políticas.

    Vem aí a Copa e por um mês o país provavelmente vai viver de futebol –espero que as manifestações, se houver, mantenham-se dentro de limites civilizados, sem violência contra pessoas ou o patrimônio público e privado e sem desrespeito às centenas de milhares de estrangeiros que virão nos visitar. Depois do Mundial, entretanto, será indispensável que os postulantes ao cargo mais importante do país comecem a mostrar seus planos e ambições.

    Com as companhas eleitorais oficialmente abertas, após a Copa, o ideal seria deixar em segundo plano as cobranças do passado e as revelações com objetivo de desgastar os adversários. E começar a colocar em primeiro plano as propostas de atuação nas várias áreas da economia e da sociedade em geral, aquelas que podem trazer esperanças para o futuro.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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