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    Benjamin Steinbruch

    Conciliação

    21/10/2014 02h00

    Mais cinco dias e teremos um presidente eleito, seja Dilma Rousseff, seja Aécio Neves. As sequelas do longo embate eleitoral em dois turnos serão, naturalmente, muito grandes.

    Ambos os lados em disputa estão sentidos. Foram atingidos por artilharia pesada, na campanha e nos debates de televisão.

    Não creio, entretanto, que seja demais pedir ao candidato eleito que não considere o outro perdedor. Política não se faz com ódio e muito menos com vingança, porque o resultado desse comportamento será sempre prejudicial ao Brasil.

    Entenda-se por revanchismo, caso o eleito seja da oposição, uma atitude feroz de procurar destruir tudo o que foi feito no governo anterior. Não se trata, portanto, do acobertamento de malfeitos da administração anterior, que precisam ser apurados com serenidade.

    No caso da manutenção da situação, o revanchismo seria a perseguição política e o isolamento de quadros que, embora tenham ficado com a oposição durante o processo eleitoral, poderiam colaborar na correção de problemas e na continuidade do governo.

    Com Dilma ou com Aécio na Presidência a partir de 1º de janeiro, o país vai precisar de pacificação para fazer as reformas que hoje são consideradas inadiáveis por todos os setores da sociedade brasileira.

    Sem pacificação, dificilmente passará pelo Congresso a reforma política, que parece ser atualmente a "mãe de todas as reformas" não só para promover a melhoria da representação popular mas principalmente para extirpar da legislação alguns incentivos à disseminação da corrupção.

    O mesmo ocorre com as demais reformas importantes, como a tributária e a trabalhista.

    O país está em um momento em que todas as forças políticas e econômicas deveriam convergir para um objetivo fundamental, que é a inserção competitiva do Brasil na economia mundial.

    Algumas aberrações nacionais precisam ser eliminadas. Uma delas é o alto custo do crédito. Quando Dilma Rousseff assumiu a Presidência, em 2011, sugeri nesta página que seu grande desafio seria levar o Brasil para o mundo dos juros civilizados, sem perder as conquistas de Fernando Henrique na área da estabilização e as de Lula na área social.

    Esse desafio, entretanto, ficará para o próximo mandato e terá de ser perseguido seja lá quem for o eleito. O país não pode continuar sendo eternamente o campeão mundial dos juros altos. Isso tira bilhões de dólares dos cofres públicos, aumenta os custos do setor produtivo, encarece o crédito, empobrece o país e o envergonha.

    Não é hora, porém, de aprofundar a discussão desses problemas. A conciliação nacional vem em primeiro lugar em momentos como este.

    Ao longo da tumultuada campanha política, houve um momento em que parecia estar a caminho o rompimento da polarização política entre PT e PSDB.

    Uma terceira força política estava em ascensão, sob a liderança de Marina Silva, que herdou a candidatura após a morte trágica do pernambucano Eduardo Campos. Mas, pelo voto, as águas da política voltaram a seu leito normal dos últimos 20 anos. O eleitor brasileiro continua a optar pela polarização e sua vontade precisa ser respeitada. Caberá, porém, aos dois blocos políticos do país, após o término do período eleitoral, uma demonstração de maturidade.

    Há caminhos que precisam ser trilhados qualquer que seja o resultado da eleição. O mais óbvio -e disso ninguém discorda- deve ser a retomada do crescimento econômico e da criação de empregos. Qualquer medida nesse sentido, se houver maturidade política, terá de contar com apoio das duas facções.

    Cabe ao eleitor fazer democraticamente sua escolha no domingo. Terminada a feroz batalha deste segundo turno, o país precisará de paz política e conciliação. E, depois, de muito trabalho.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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