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    Benjamin Steinbruch

    Pressa

    07/04/2015 03h00

    Foi até uma boa surpresa, mas 2014 não passará à história como um ano de recessão na economia brasileira –houve um crescimento residual de 0,1%, segundo os cálculos do IBGE, agora fundamentados em nova metodologia.

    A presidente Dilma Rousseff terminou seu primeiro mandato de quatro anos entregando um crescimento médio anual de 2,1% e expansão média anual do PIB per capita de 1,2%, novamente segundo cálculos do IBGE.

    O indicador que mede o PIB per capita é talvez o mais adequado para avaliar um período, porque mostra o real índice de enriquecimento ou empobrecimento da população. Nada adiantaria a economia crescer 5%, por exemplo, se a população aumentasse 6% –nesse caso, haveria um empobrecimento médio.

    No Brasil vem ocorrendo o contrário. Mesmo com a expansão modesta do PIB, ela tem sido superior, em média, à da população, que está abaixo de 1% ao ano. [Uma curiosidade: o "relógio" do IBGE indica que já somos 204 milhões de brasileiros e que, a cada 19 segundos, a população aumenta em uma pessoa]

    Voltando ao PIB, porém, resta dizer que os dados divulgados pelo IBGE há alguns dias são desanimadores. O país não entrou em recessão no ano passado, mas está estagnado. E a estagnação tem tudo a ver com a persistente queda do nível dos investimentos públicos e privados no país –no ano passado, a redução foi de 4,4%.

    Investimento tem a ver com confiança. O setor privado, responsável pela maior parte dos investimentos, não voltará a investir com determinação enquanto a economia não apresentar alguma reação.

    Os números confirmam a situação ruim da indústria, que teve uma queda de produção de 1,2% no ano passado. Na indústria de transformação, a recessão foi mais severa: 3,8%, denotando um ambiente claramente desfavorável para o setor tanto interna, pela queda do consumo, quanto externamente, pela perda de competitividade da produção brasileira. No primeiro bimestre deste ano, a indústria teve uma queda anual espantosa, de 7,1%.

    Apesar dessa sequência de números alarmantes, não se pode cultivar o catastrofismo. A maior ameaça que sofre uma família ou um país é a do desemprego. A situação atual nessa área ainda não é dramática e é preciso impedir a todo custo que ela assim se torne, invertendo o mais rapidamente possível a tendência recessiva, que gera desemprego.

    Saúdo aqui uma aparente mudança de comportamento dos integrantes da equipe econômica do governo. Eles deixaram o discurso único do ajuste fiscal e da austeridade e voltaram a falar em política econômica e crescimento. Prometem a retomada da economia a partir do terceiro trimestre.

    Espero que estejam certos, mas isso exige mais do que palavras. Para destruir menos empregos, o ajuste fiscal, indiscutivelmente necessário, tem de ser mais focado em corte de gastos públicos correntes do que em aumentos de impostos e tarifas que atinjam o bolso da população –estima-se que 85% do esforço fiscal até agora anunciado pelo governo tenha sido bancado pelos contribuintes e consumidores.

    A volta do crescimento depende principalmente do investimento privado. E isso só virá com a puxada no investimento público e a recuperação da credibilidade, da crença do empreendedor a respeito do aumento da demanda de produtos e serviços.

    A crença não é tudo. Também faltam condições de financiamento dos investimentos. Não haverá estímulos para investir em produção enquanto os juros internos continuarem nesse nível –a Selic está em 12,75% e deve subir para 13%. Além disso, o Conselho Monetário Nacional aumentou a TJLP, taxa dos financiamentos de longo prazo do BNDES, de 5,5% para 6%. Propaga-se que o papel do BNDES deixará de ser o de financiador principal e passará a ser o de estimulador de projetos, o que torna indispensável a busca de uma nova estrutura de financiamento com maior participação do setor privado a juros civilizados.

    Acabou o primeiro trimestre. A produção, na melhor das hipóteses, continua estagnada. É urgente e até patriótico trabalhar medidas que possam acelerar a volta do crescimento. E não custa lembrar que existe uma fórmula perfeita para paralisar a economia: cortar investimento público e elevar juros.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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