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    Benjamin Steinbruch

    Braços cruzados

    28/07/2015 02h00

    A economia vai muito mal, está em recessão, os juros batem na lua, o crédito é escasso e caro, a inflação é elevada e o desemprego aumenta. O desentendimento político complica a situação, porque impede a aprovação de medidas necessárias para recolocar a economia no rumo.

    O mundo também não vai bem. A nova crise da Grécia desestabiliza a Europa, e a perda de ritmo da China preocupa muito.

    Apesar disso tudo, não esperem de um empresário nacional que ele entregue os pontos. Ninguém vai me convencer de que não é possível trabalhar desde já pela volta do entendimento e do crescimento econômico.

    Quem disse que é preciso esperar o fim do ajuste fiscal ou a conclusão da Operação Lava Jato para começar a pensar em retomada da economia? Essa inércia embute conformismo –é inaceitável.

    É possível fazer correções imediatas ou adotar medidas para estimular a economia. No início do mês, por exemplo, o governo baixou uma medida para abrandar o ritmo das demissões de trabalhadores. A medida permite que empresas reduzam a jornada de trabalho em até 30%, com redução de salário. Metade dessa redução (15%) será bancada por recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

    O governo não tinha apoio tão amplo para uma medida havia muito tempo. Para as empresas, será uma oportunidade de manter seus empregados, mesmo com a redução de demanda, arcando com custos menores. Para os trabalhadores, o benefício será a continuidade do emprego, ainda que tenham de aceitar uma redução temporária de remuneração.

    Para o governo, não haverá perda de receita, porque os gastos com os 15% serão menores do que teria com pagamento do seguro-desemprego caso os trabalhadores fossem demitidos. É possível até que o governo tenha um ganho fiscal nessa operação. Ao manter os empregos, mantêm-se também todos os recolhimentos da Previdência, Imposto de Renda e demais encargos, que seriam interrompidos em caso de demissão.

    Se o consumo interno está em baixa, é possível trabalhar para manter a taxa de câmbio no lugar correto e tomar outras medidas para estimular e desburocratizar as exportações –os empresários também têm a obrigação de buscar demanda nos mercados externos.

    Acelerar as concessões na infraestrutura é possível, apesar das incertezas. E não é pecado pensar em estimular o consumo em setores muito machucados pela queda de demanda.

    Tem ainda o sempre presente problema dos juros. Se as previsões do mercado se confirmarem, haverá amanhã um novo aumento da taxa básica de juros, para 14% ao ano. Com essa taxa, é difícil alcançar o equilíbrio nas contas do governo, que gasta mais de R$ 400 bilhões com juros da dívida a cada 12 meses, valor equivalente a 7% do PIB.

    Em resumo, é possível reduzir juros, estimular consumo, ajustar a taxa de câmbio sem provocar inflação para dar oxigênio às exportações, antecipar concessões e tomar medidas inteligentes para evitar o aumento do desemprego, como aquela do início do mês. Só não é admissível ficar de braços cruzados e achar que a inércia e o conformismo poderão levar o país a retomar o crescimento econômico.

    Para reagir, o Brasil precisa mais do que nunca de trabalho e inteligência. É no país que todos devemos pensar num momento difícil como este. Não em facções, não em poder, não em interesses pessoais ou setoriais.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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