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    Benjamin Steinbruch

    Virar o jogo

    25/08/2015 02h00

    Todo brasileiro conhece a expressão que está no título acima. O Brasil está perdendo de 3 a 0 e precisa virar esse jogo de qualquer jeito. E virar o jogo significa, em poucas palavras, estancar o processo recessivo, voltar a crescer e a criar empregos.

    É relativa essa história de que o modelo de estímulo ao consumo se esgotou. A presidente do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, que entende de consumo, observou recentemente que apenas uma pequena parcela da população tem TVs modernas, de tela plana, só 54% das famílias têm máquina de lavar automática e que será preciso construir 23 milhões de casas em dez anos para atender às necessidades do país.

    As carências brasileiras são enormes em praticamente todas as áreas e não faz sentido achar que acabou o espaço para o crescimento de consumo. O que caiu, na verdade, foi a confiança do consumidor, assustado que está com a saraivada de notícias ruins na política, na ética e na economia. Centenas de milhares já perderam emprego e renda, mas mesmo quem continua empregado procura adiar compras para não se endividar ou queimar reservas.

    Para virar o jogo, portanto, é preciso voltar a incutir confiança no brasileiro. A crise econômica que vivemos não é a primeira e nem será a última. Também não é a maior de todos os tempos. Quem se lembra da hiperinflação e do calote da dívida dos anos 1980?

    Com toda a certeza, a atual crise tem a ver com falta de confiança, mas também com equívocos na condução da economia. Um deles, muito grave, foi a adoção, ao mesmo tempo, de um ajuste fiscal vigoroso e um arrocho monetário que não tem paralelo em lugar nenhum do mundo neste momento.

    Além da confiança, o consumidor precisa de crédito, mas com juros civilizados, e não com o absurdo custo atual, que passa de 300% ao ano.

    A venda no comércio diminuiu 2,2% no primeiro semestre, a maior queda em 12 anos, segundo o IBGE, e as principais razões para essa tendência, além do medo de gastar, são a escassez e o custo do crédito no varejo, a redução da renda e a inflação.

    A indústria já vem perdendo espaço nos últimos anos, em razão de um persistente processo de desindustrialização decorrente de sua menor competitividade global.

    Em 2014, segundo dados da Fiesp, só a indústria paulista fechou 130 mil vagas de trabalho. Neste ano, com o afundamento do consumo, cerca de 93 mil empregos foram perdidos de janeiro a julho, e a Fiesp prevê a extinção de um total de 200 mil vagas no ano em São Paulo. Em todo o país, 345 mil postos de trabalho foram perdidos no primeiro semestre. O índice de desemprego geral subiu para 7,5% em julho.

    O país não precisa se autoflagelar dessa forma. Aos poucos, os economistas vão se convencendo de que o desequilíbrio das contas públicas não decorre da política de incentivo ao consumo adotada nos últimos anos, e sim de algo maior e mais estrutural, as obrigações constitucionais atribuídas ao setor público.

    O deficit público deve ser combatido com austeridade e coragem. Mas ele só será efetivamente reduzido se o combate se der num ambiente de crescimento econômico que leve o empresário a investir, o consumidor a comprar e o governo a arrecadar.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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