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    Benjamin Steinbruch

    É só querer

    06/10/2015 02h00

    A crise é feia na economia e na política. O país está em recessão, as contas do governo não fecham, os impostos esfolam os brasileiros, o crédito é o mais caro do mundo, a indústria brasileira anda pra trás, o desemprego já atinge 8,6 milhões de pessoas, o comércio não vende, o dólar passou de R$ 4 pela primeira vez desde a criação do real, a inflação está alta, as ações das empresas estão superdesvalorizadas etc.

    Tudo isso é real. A conjuntura é desesperadora. Mas em situações como essas temos a tendência de esquecer conquistas recentes e passar a ideia de que nada dá certo no país.

    O Brasil dos últimos 20 anos, apesar de tantos erros cometidos no meio do percurso, é um exemplo de sucesso.

    Não acredita? Vamos, então, repassar alguns números básicos.

    Em 1994, o PIB brasileiro, em dólares correntes, era de US$ 558 bilhões. No ano passado, atingiu US$ 2,35 trilhões, segundo estatísticas do FMI. Nesse período, a renda per capita do brasileiro subiu de US$ 3.569 para US$ 11,6 mil por ano.

    O comércio exterior (importações mais exportações) passou de US$ 76 bilhões para US$ 454 bilhões nesses 20 anos.

    E a produção de alimentos (grãos) aumentou de 81 milhões de toneladas ao ano para 209 milhões ao ano.

    Houve nessas duas décadas um bom avanço na distribuição de renda. O principal indicador da concentração de renda é o Índice Gini, que vai de zero a 1 —quanto mais perto de 1, mais concentrada e quanto mais próximo de zero, menos concentrada.

    Pois o Gini do Brasil melhorou bastante, passando de 0,603 em 1994 para 0,501 no ano passado.

    Na área social, houve avanços consideráveis. O índice de analfabetismo, a despeito do ensino deficiente, foi reduzido pela metade e hoje há no país 8,5% de pessoas com mais de quinze anos que não sabem ler e escrever.

    A mortalidade infantil, talvez o mais importante indicador das condições de saúde de uma população, caiu. Em 1994, para cada mil bebês nascidos vivos, 43 morriam no primeiro ano de vida. Agora, esse índice é de 14,4.

    Dentro de casa, a situação melhorou. Só 39% dos domicílios tinham esgoto em 1994, número que subiu para 59%. A luz elétrica já está instalada em 99,6% das residências e a água encanada, em 85%. E 97,2% deles têm geladeira e televisão.

    Há muitos outros números positivos, que não cabem neste espaço.

    E você poderá citar, certamente, vários indicadores negativos desse período, sendo mais grave a desindustrialização que atingiu o parque manufatureiro brasileiro.

    Sempre será possível também comparar esses dados, aqui e ali, com os de outros países que caminharam mais rapidamente.

    E por que lembrar essas coisas em meio a uma crise tão grande?

    A resposta é simples: para observar que o Brasil tem um currículo que o credencia para superar os problemas atuais. Superou crises seguidamente, desde Itamar até agora.

    Todos esses governos cometeram erros, mas todos também promoveram avanços, mostrados por alguns números citados acima.

    O país está naturalmente assustado com o tamanho da crise. Já há perdas imensas para empresas e trabalhadores, que exigem correção imediata de políticas equivocadas.

    É só querer.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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