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    Benjamin Steinbruch

    Chega de discurso defensivo, o país precisa de atitudes pró-crescimento

    26/07/2016 02h00

    9.fev.2007/Agência Petrobras
    ORG XMIT: 470701_1.tif *** ARQUIVAR MERCADO*** Bahia--09.02.2007-- Foto: Agência Petrobras/ Fabrica de fertilizantes da Petrobras em Camaçari na Bahia. *** PROIBIDA A PUBLICAÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS ***

    A economia brasileira tem uma tendência natural ao crescimento. É resistente e dinâmica, algo que se manifesta quando existem condições mínimas para impulsioná-la.

    Nos últimos meses, as mudanças verificadas na área política e as previstas para a econômica trouxeram sopros de confiança que melhoraram indicadores de desempenho da economia real. Em diversos setores esse sopro foi sentido, notadamente na indústria.

    Mas o germe de crescimento não pode ser sufocado. Ele precisa ser cultivado com alguns estimulantes, inclusive verbais. São escassos os pronunciamentos oficiais nesse sentido. Preocupa o fato de que o discurso oficial, tal qual ocorreu no inicio do ano passado, esteja circunscrito à questão das contas públicas. Ainda que a política fiscal atual não seja tão rigorosa quanto parece –trabalha-se com um deficit primário de R$ 170 bilhões para este ano, cerca de 3% do PIB–, as vozes em destaque são as da austeridade e do teto de gastos. No ano passado, a expressão única, repetida à exaustão, era "ajuste fiscal". Isso destruiu a confiança e deu no que deu.

    Declarações sobre medidas para estimular o crescimento da economia e do emprego ficam para segundo plano. Deixam implícita a seguinte mensagem: vamos resolver a questão fiscal por enquanto e depois pensaremos nessa história de combate ao desemprego.

    Não pode ser assim. As ações precisam ser concomitantes. Ao mesmo tempo em que se promove o ajuste das contas públicas, é possível propagar medidas para que a atividade econômica retome seu dinamismo.

    Já estamos acostumados com a ideia de que o Banco Central deva ter uma única missão, o combate à inflação. Outros bancos centrais têm dupla missão, o combate à inflação e o cuidado com o emprego. Mas, vá lá, essa ideia não cola no Brasil.

    Não é razoável, porém, que a falta de preocupação com crescimento e emprego contamine as demais áreas da administração pública. Em todas, sem exceção, é necessário ter um olho na gestão cuidadosa de recursos capturados na sociedade e outro no objetivo fundamental de proporcionar bem-estar à sociedade, algo que se alcança no curto prazo principalmente com expansão da atividade.

    Há providências que podem ser tomadas desde logo, ao mesmo tempo em que se busca o controle das contas públicas, e, entre elas, algumas até podem ajudar no ajuste fiscal. A redução da taxa Selic, por exemplo, que pode ter impacto favorável no crédito, no consumo e no investimento, é uma dessas coisas óbvias, que de quebra ajudaria a reduzir a pesada conta de juros paga para sustentar a dívida pública. Acelerar novos programas de concessões e estimular os negócios na construção civil também são ações que não comprometem o esforço de ajuste fiscal e combate à inflação.

    Em maio de 1940, a França estava tomada pelos alemães, e Hitler sufocava a Inglaterra. Sob pressão, Churchill foi à Câmara dos Comuns, em Londres, e fez o famoso discurso em que pediu voto de confiança e prometeu "sangue, trabalho, suor e lágrimas", mas disse algo mais: "Vocês perguntam qual é o nosso objetivo? Posso responder com uma palavra, vitória".

    O objetivo de qualquer país emergente é o crescimento. Chega de discurso defensivo. Atitudes pró-crescimento ajudam a criar um clima favorável à retomada. O momento é propício para isso, porque em muitos setores a economia parou de piorar. E precisa apenas de um empurrãozinho para pegar no tranco.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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