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    Benjamin Steinbruch

    Só obras financiadas e estimuladas pelo setor público tiram país da crise

    27/06/2017 02h00

    Sérgio Lima - 22.jan.2015/Folhapress
    CRISTALINA, GO, BRASIL, 22-01-2015: Obras de duplicação na BR 050, realizada pela concessionária MGO Rodovias. As 5 concessionárias de rodovias que venceram os leilões em 2013 tinham a obrigação de duplicar 10% da estrada antes de cobrar pedágio, num total de 268 km. As concessões foram feitas e, a partir de março, devem começar a cobrar os pedágios em toda a estrada por terem cumprido a regra. Em todos os casos elas estariam fazendo obras em trechos com baixo ou muito baixo volume de tráfego. (Foto: Sergio Lima Folhapress - PODER) *** ESPECIAL ***
    Obras de duplicação na BR-050

    A crise política é tão intensa que muita gente já desistiu de olhar para possíveis saídas que o país tem para escapar da recessão.

    Eu, não. Entendo que, mesmo numa conjuntura em que as bases do sistema político estão em assustador processo de destruição, a condução econômica pode conseguir pelo menos atenuar a crise que joga 14 milhões de brasileiros no desemprego.

    Essa forte recessão, que fecha empresas e extingue empregos, derruba a inflação —o país está à beira da deflação, uma doença tão perigosa quanto a inflação.

    Existe um certo consenso a respeito de erros que levaram o país a esse quadro recessivo. As desonerações, reivindicação de toda a sociedade, talvez tenham passado do limite, o que ajudou a deteriorar as contas públicas.

    O congelamento de tarifas também ultrapassou o nível do razoável, embora no caso da energia elétrica também houvesse um clamor geral pela redução dos custos que prejudicavam a competitividade da empresa brasileira.

    Assumidos esses erros, entre outros, veio uma tentativa catastrófica de corrigi-los no início de 2015. A economia já estava em desaceleração.

    Mesmo assim, foi aplicado um choque tarifário que elevou a inflação e levou o Banco Central a aumentar os juros, enquanto a equipe econômica tentava impor um feroz ajuste fiscal.

    Em 2015 não se falava em outra coisa: ajuste fiscal, ajuste fiscal. Era um discurso único e depressivo, cujo resultado foi obviamente aprofundar a recessão.

    O crescimento anêmico do PIB, de 0,5% em 2014, virou retração de 3,8% em 2015. Isso derrubou ainda mais as receitas do governo e aumentou o buraco nas contas, em vez de reduzi-lo.

    O deficit primário, que era de 0,6% do PIB em 2014, subiu para 2,5% em 2015. Em resumo, erros foram cometidos e, na hora de corrigi-los, houve novos erros, porque a correção deveria ter sido feita de maneira mais suave.

    Hoje, a despeito da angustiante crise política, há espaço para começar a levantar a economia e, à luz do passado recente, evitar a estratégia desastrosa de corrigir erros com outros erros.

    Há uma tênue recuperação da economia a ser estimulada. O discurso da austeridade e das reformas precisa ser abandonado.

    Não as iniciativas em si, que são necessárias, mas o discurso, que é monótono e depressivo. Em seu lugar tem de surgir o discurso do crescimento, do investimento, do desenvolvimento.

    Não há outro caminho para sair da recessão que não passe por obras financiadas e estimuladas pelo setor público.

    Estradas precisam e podem ser recapeadas; rodovias, asfaltadas; ferrovias, concluídas; obras de saneamento, iniciadas; concessões públicas, continuadas; escolas, construídas; habitações, financiadas.

    Quem souber outro caminho que indique. O que está sendo trilhado, apoiado em reformas e austeridade, na esperança de que isso crie um ambiente de confiança, favorável a investimentos, é solução de longo prazo, de quem não se sensibiliza com o flagelo do desemprego.

    Obras nessas áreas podem ter efeito imediato. Além de atender a carências básicas, criam emprego, impulsionam o consumo, destravam investimentos.

    E de onde viria o dinheiro para essas obras? Parte do setor público e parte do privado. Não faz sentido, por exemplo, o BNDES estar guardando quase R$ 200 bilhões em caixa enquanto o país derrete na recessão.

    Assim como não faz sentido, após três anos de afundamento econômico, continuarmos com juros acima de 10% ao ano, essa aberração brasileira que virou chacota internacional, que inibe o crédito, os investimentos e cria custos inacreditáveis para o próprio governo.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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