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    Benjamin Steinbruch

    A economia que quase morreu pelo remédio

    12/12/2017 02h00

    O ano deve terminar com inflação bem inferior à meta de 4,5%, certamente abaixo de 3%. E isso não é motivo para comemoração. É apenas uma prova de que o choque de juros foi além do necessário, um sinal evidente de erro na implementação de política.

    ABAIXO DA META - Inflação fica em 0,28% em novembro e pode encerrar o ano abaixo do limite de tolerância do Banco Central

    A autoridade monetária terá de explicar formalmente ao ministro da Fazenda, ao presidente da República e ao país por que cometeu esse erro que custou mais recessão, mais desemprego e mais desalento para as famílias brasileiras.

    A sociedade espera que o conservadorismo e a teimosia não adiem também desnecessariamente a volta do crescimento da produção e do emprego.

    O "D" do BNDES significa desenvolvimento. É preciso que esse banco estatal, assim como os outros bancos do Estado e outras entidades públicas e privadas provedoras de crédito, passe a financiar com garra os investimentos e o consumo, com juros civilizados e sem preconceitos ideológicos.

    A reforma da Previdência é importante, assim como a tributária e a trabalhista. Mas é uma ilusão achar que, feitas essas reformas, tudo estará resolvido. Para retomar o crescimento continuado, a economia precisa de atitudes ofensivas, muito além das reformas defensivas.

    Dado importante divulgado pelo IBGE mostra o investimento começando a voltar: cresceu 1,6% de julho a setembro, pela primeira vez em 15 trimestres.

    Outros números indicam que a indústria de bens de capital, melhor termômetro para os investimentos, cresceu 1,1% em outubro em relação a setembro
    e 14,9% na comparação com outubro do ano passado.

    São sinais de que o setor privado, animado pelo aumento do consumo das famílias, já se prepara para aumentar a produção.

    Na medida em que a economia brasileira começa a se recuperar lentamente de seu primeiro grande trauma do século 21, cada vez mais nos convencemos de uma realidade incontestável: o país perdeu alguns pontos a mais do PIB (Produto Interno Bruto) do que seria necessário para retomar o caminho do crescimento. E também alguns milhões de empregos. Tudo isso por puro conservadorismo.

    Como mostrou reportagem desta Folha, a estatística oficial indica que a recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 e estendida até o último trimestre de 2016 fez a economia encolher 8,2%.

    Esse vexame econômico é um pouco menor do que o de 1989-1992 e o de 1981-1983, quando o PIB encolheu, respectivamente, 8,6% e 8,5%. Mas é maior do que o decorrente da Grande Depressão americana, em 1930-1931, biênio em que a produção baixou cerca de 5,5%.

    Esses números, na verdade, são curiosidades estatísticas. O da década de 1930, por exemplo, é uma estimativa, porque naquela época não havia dados nacionais suficientes para um cálculo exato da produção interna.

    Por mais que tenham se esforçado, os defensores da política de "juros na lua" não conseguiram quebrar o recorde do campeonato das nossas recessões ou impedir a volta do crescimento da economia brasileira.

    benjamin steinbruch

    É empresário, diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração e 1º vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a
    cada duas semanas.

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