Traídas, humilhadas ou apenas insatisfeitas com o valor da pensão alimentícia. Por diferentes motivos, ex-mulheres com sede de vingança costumam ser um estorvo na vida de políticos envolvidos em escândalos. A maldição de Nicéia Pitta acaba de fazer mais uma vítima no Reino Unido: o ex-ministro Chris Huhne.
Na segunda-feira, começou o julgamento do liberal-democrata, que até o ano passado era um dos principais nomes do governo britânico. Ele se antecipou ao júri e confessou o crime pelo qual era acusado: enganar a polícia ao transferir os pontos de uma multa de trânsito para a ex-mulher, como se ela estivesse dirigindo o seu BMW.
Huhne fez isso para não perder a carteira de motorista depois de ser flagrado em alta velocidade perto do aeroporto de Stansted, ao norte de Londres. A história aconteceu há dez anos, mas só veio à tona em 2011, quando sua ex-mulher, Vicky Pryce, descobriu que ele mantinha um caso com a assessora de imprensa. "A vingança dela foi procurar os jornais para destruir a carreira política do ex-marido", disse o promotor Andrew Edis.
A fraude, que em outros países talvez seja vista como um delito menor, dá cana dura por aqui. O ex-ministro deve pegar até um ano de prisão por obstruir a Justiça. Antes de o veredicto sair, ele anunciou que vai abrir mão do mandato de deputado. "Tendo assumido a culpa, a atitude que me resta é renunciar à minha cadeira no Parlamento", disse.
O britânico deu azar por não ter nascido no Brasil, onde políticos assumem mandatos depois de serem condenados à prisão. José Genoino recebeu pena de quase sete anos por corrupção ativa e formação de quadrilha no mensalão. Depois da sentença, aproveitou o afastamento de um deputado e tomou posse em seu lugar como suplente. Vai usufruir as benesses do cargo até o dia em que for obrigado a trocar o gabinete pela cadeia.
Huhne também tem motivos para invejar Renan Calheiros, outro político flagrado em um caso extraconjugal. Em 2007, a imprensa descobriu que um lobista de empreiteira pagava as contas de seu filho com uma jornalista de TV. O senador cuidou de preservar o casamento, evitando que a mulher traída saísse por aí falando de suspeitas mais graves do que a transferência de multas de trânsito. Renan salvou o mandato e acaba de ser premiado com a volta à presidência do Senado.
Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.