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    Bernardo Mello Franco

    Pra que discutir com madame?

    13/01/2015 02h00

    BRASÍLIA - "Madame diz que o samba tem pecado / Que o samba é coitado e devia acabar." Trocando o samba pelo PT, Marta Suplicy disse o mesmo na ruidosa entrevista de domingo ao "Estadão". O partido não quer discutir com madame, como ensina a composição de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa, mas tem motivos para se preocupar.

    Marta só pensa em concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2016. No PT, estava condenada a espernear até ser preterida outra vez. Em outra sigla, pode não entrar no páreo como favorita, mas tem tudo para dificultar a reeleição de Fernando Haddad.

    O prefeito vinha pavimentando a rota para o segundo mandato. Atendeu aos apelos para sair mais do gabinete e conseguiu deixar o fundo do poço nas pesquisas, embora ainda esteja longe da popularidade do início do governo. Na semana passada, selou uma virtual aliança com o PMDB ao convidar Gabriel Chalita para a Secretaria de Educação.

    O rompimento de Marta com o petismo pode jogar Haddad de volta à estaca zero. Aliados reconhecem que a senadora preserva muita força na periferia, que concentra os redutos mais tradicionais do PT. Nessas áreas, ela ainda é venerada por marcas de sua gestão (2001-04) como os CEUs, o Bilhete Único e a distribuição de uniforme escolar.

    "O eleitor do PT na periferia não se identifica com o Haddad. A Marta tem o que mostrar lá, e ele ainda não tem", resume um aliado do prefeito. "Apoiar ciclovia e grafite faz sucesso na Vila Madalena, mas não dá voto nos bairros que garantiram a nossa vitória em 2012", acrescenta ele.

    Faltando menos de dois anos para a eleição, Haddad não tem tempo para discutir com Marta. Seu desafio é mudar o eixo da administração para fincar estacas na base eleitoral da ex-prefeita. O PT está desgastado em São Paulo, e o apoio de Lula não deverá ser suficiente para decidir a disputa. Em 2014, o candidato dele a governador, Alexandre Padilha, teve apenas 22% dos votos na capital.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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