• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 19:24:54 -03
    Bernardo Mello Franco

    O crime compensa na Sapucaí

    19/02/2015 02h00

    BRASÍLIA - Não basta reclamar da Beija-Flor, que levantou o troféu com patrocínio do sanguinário ditador da Guiné Equatorial. Uma conversa a sério sobre o financiamento do Carnaval do Rio precisa discutir os repasses de verba pública às escolas de samba e o controle da festa mais popular do país por uma entidade ligada ao crime, com as bênçãos do Estado e da prefeitura.

    A escola campeã, comandada há décadas por um contraventor de Nilópolis, está longe de ser exceção. A simpática Portela tem como patrono um miliciano, a Mocidade Independente pertence a um capo dos caça-níqueis, a Imperatriz Leopoldinense está nas mãos de um ex-torturador que virou bicheiro.

    Os quatro já estiveram presos e continuam a reinar na Marquês de Sapucaí, onde têm livre acesso aos camarotes e são reverenciados por artistas e políticos. Eles mandam na Liesa, a liga que organiza os desfiles na Marquês de Sapucaí.

    Em 2008, uma CPI da Câmara Municipal do Rio concluiu que a entidade deveria disputar licitação se quisesse continuar à frente do Carnaval. O então prefeito Cesar Maia foi contra. Os postulantes à sua cadeira evitaram o assunto. Eduardo Paes venceu a eleição, e pouca coisa mudou no Sambódromo.

    A prefeitura continuou a injetar dinheiro nas escolas até 2010, quando o Ministério Público mandou suspender os repasses. A verba direta foi substituída por patrocínios a eventos paralelos. Os conselheiros do Tribunal de Contas do Município, que deveriam coibir a farra, assistiam a tudo em quatro camarotes na avenida, depois devolvidos por ordem judicial.

    Paes já ensaiou licitar o desfile, mas desistiu alegando falta de interessados. Em 2012, quando concorria à reeleição, foi cobrado em sabatina do jornal "O Globo" sobre a permanência dos bicheiros. "Chato é, mas vou fazer o quê? Acabar com o Carnaval?", perguntou o prefeito. Aí está um bom tema para os candidatos à sua sucessão no ano que vem.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024