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    Bernardo Mello Franco

    Merecemos o Carnaval

    07/02/2016 02h00

    BRASÍLIA - O colunista Alexandre Vidal Porto escreveu, na última terça, que o Brasil não merece o Carnaval. Em viagem recente aos Estados Unidos, ele concluiu que há tempos nós não éramos tão mal falados no exterior. "As referências elogiosas ao país desapareceram", lamentou.

    Com a crise, a violência e o zika, seria melhor guardar as fantasias e cancelar a folia deste ano. "Nada me parece mais individualista e inconsequente do que dançar enquanto nosso país se desfaz", sustentou o escritor e diplomata no site da Folha.

    Não costumo comentar opiniões de colegas, mas vou abrir uma exceção para discordar do Alexandre, de quem sou leitor assíduo. Além de não resolver nossos problemas, a ideia de cancelar a festa só agradaria a quem não gosta dela. A maioria da população perderia uma alegria efêmera em tempos marcados pela tristeza.

    "Se a única coisa de que o homem terá certeza é a morte, a única certeza do brasileiro é o Carnaval no próximo ano", escreveu Graciliano Ramos. Ele sabia que folia não é um prêmio nacional de bom desempenho. Se fosse, deveria ter sido suspensa há mais tempo, talvez no dia em que os portugueses aportaram por aqui.

    A ideia de cancelar o Carnaval não é propriamente nova. Em 1912, o presidente Hermes da Fonseca tentou fazer isso por decreto, após a morte do barão do Rio Branco, e adiou a festa de fevereiro para abril. O povo chorou a morte do barão, mas ignorou a ordem do marechal. Naquele ano, o Rio pulou dois Carnavais. "Com a morte do Barão / Tivemos dois carnavá / Ai que bom, ai que gostoso! / Se morresse o marechá", debocharam os cariocas, em ritmo de marchinha.

    A festa pode ser inconsequente, como escreveu meu colega, mas não tem nada de individualista. É popular e coletiva por definição, seja nos blocos de rua ou nos desfiles da Sapucaí, que movimentam a economia e atraem tantos turistas ao país. Além de tudo, o Carnaval ainda é democrático: o feriado vale para todos, até para quem não gosta de samba.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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