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    Bernardo Mello Franco

    Unidos contra o naufrágio

    12/02/2016 02h00

    BRASÍLIA - Toda doação declarada à Justiça é legal. As empreiteiras que ajudaram Dilma Rousseff também financiaram a campanha de Aécio Neves. Os tucanos não aceitaram a derrota e apelaram para o tapetão.

    As três teses acima são repetidas há meses pelo ex-presidente Lula e pelo PT. Agora foram abraçadas pelo vice Michel Temer, em sua defesa no processo de cassação que corre no Tribunal Superior Eleitoral.

    Os advogados do peemedebista sustentam que não é possível "demonizar" doações oficiais, mesmo que os doadores estejam sob suspeita. Isso significa dizer que nenhum político poderia ser punido por receber recursos de corruptos, desde que o dinheiro tenha entrado pelo caixa um.

    É o contrário do que afirma o juiz Sergio Moro nas sentenças da Lava Jato. Ao condenar João Vaccari, ele escreveu que o ex-tesoureiro petista maquiou "recursos criminosos" na forma de "doações eleitorais registradas". A sentença se baseou no testemunho de ao menos três delatores que ligaram os desfalques na Petrobras a doações oficiais ao PT.

    Se aceitar a tese, o TSE reconhecerá que se transformou em uma grande lavanderia de dinheiro sujo. O outro problema será explicar como as mesmas empresas podem ter feito doações irregulares para a chapa de Dilma e regulares para a de Aécio.

    "Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia. Então o nosso companheiro Vaccari pegava dinheiro de propina e o PSDB ia lá no cofre e pegava dinheiro limpo?", ironizou o ex-presidente Lula, em novembro passado. É mais ou menos o que a defesa de Temer diz agora, ao lembrar que Aécio também "foi agraciado com vultosas quantias" das empreiteiras da Lava Jato.

    Os sete ministros do TSE terão que decidir se concordam com Moro ou com a dupla Lula-Temer. Enquanto o julgamento não vem, é curioso ver como o PT e o vice, antes separados pelo impeachment, voltaram a remar juntos para tentar escapar de um naufrágio no tribunal.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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