• Colunistas

    Thursday, 02-May-2024 04:14:20 -03
    Bernardo Mello Franco

    Dilma, Temer e a traição

    19/04/2016 02h00

    Divulgação
    O vice-presidente Michel Temer acompanha a votação do impeachment na Câmara
    O vice-presidente Michel Temer acompanha a votação do impeachment na Câmara

    BRASÍLIA - "Joaquim Silvério dos Reis!". Um deputado petista gritou o nome do traidor da Inconfidência Mineira quando Aguinaldo Ribeiro, do PP, subiu à tribuna para defender o afastamento de Dilma Rousseff. Ele foi um dos três ex-ministros da presidente que votaram a favor do impeachment no domingo. Completam a lista Alfredo Nascimento, do PR, e Mauro Lopes, do PMDB.

    No Senado, Dilma já sabe que será abandonada por mais três ex-auxiliares: Marta Suplicy, do PMDB, Marcelo Crivella, do PRB, e Fernando Bezerra Coelho, do PSB. Outros ex-ministros de seu governo, como os peemedebistas Eliseu Padilha e Moreira Franco, têm atuado à luz do dia no esforço para derrubá-la.

    A deserção de tanta gente que frequentava o gabinete presidencial dá nomes e rostos a um fenômeno mais amplo. À exceção de PT e PC do B, todos os partidos que apoiavam a presidente na Câmara forneceram votos a favor do impeachment.

    Dilma não ousou se comparar a Tiradentes, mas disse ontem que foi vítima de uma conjuração chefiada por Michel Temer, seu companheiro de chapa em duas eleições.

    "É estarrecedor que um vice-presidente conspire contra uma presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo, uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade não gosta de traidores", afirmou.

    É improvável que o discurso ajude Dilma no Senado, onde as enquetes já registram votos suficientes para afastá-la do cargo. No entanto, suas palavras podem causar danos à imagem de Temer, que tenta se apresentar à opinião pública como um político confiável.

    Em dezembro, o vice disse à coluna que não participaria de conspirações. "Se eu chego à Presidência por uma deslealdade institucional, eu chego mal", afirmou. Sua foto aos risos no domingo, diante de uma TV que transmitia a votação do impeachment, não deve ajudá-lo a passar a impressão desejada.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024