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    Bernardo Mello Franco

    'É propina mesmo'

    27/04/2016 02h00

    BRASÍLIA - Enquanto o impeachment corre como uma lebre, o processo contra Eduardo Cunha caminha a passos de tartaruga. Ontem a investigação conseguiu avançar alguns milímetros. Com quase seis meses de atraso, o Conselho de Ética finalmente ouviu o lobista Fernando Baiano, testemunha-chave na acusação contra o correntista suíço.

    Foi por pouco. Até a semana passada, o peemedebista tentava barrar o depoimento. Chegou a dizer que a sessão seria um "desperdício de dinheiro público". A Câmara só emitiu as passagens aéreas para o delator quando o presidente do conselho ameaçou reservar os bilhetes com dinheiro do próprio bolso.

    Baiano confirmou o que já havia declarado à Justiça Federal. Disse que se reuniu "mais de dez vezes" com Cunha e contou ter levado R$ 4 milhões em dinheiro vivo ao escritório do deputado, no centro do Rio. Ele também relatou visitas ao gabinete e à casa do peemedebista num condomínio da Barra da Tijuca.

    Condenado a 16 anos de prisão na Lava Jato, ele tentou evitar o uso da palavra "propina" ao descrever os pagamentos ao presidente da Câmara. O deputado Sandro Alex, do PPS, protestou. "Chama-se propina pagamento a um político para liberação de dinheiro levado da Petrobras. É o termo que usamos aqui nessa comissão. Chama-se propina", disse.

    Baiano ensaiou mais um drible, mas deu o braço a torcer. "Eu falei que nunca tratei com o deputado Eduardo Cunha falando esse termo 'propina'. Agora, que é propina, é. É vantagem indevida, é propina. É isso mesmo", afirmou o lobista.

    O processo contra Cunha já bateu um recorde. É o mais longo da história da Câmara, arrastando-se há mais de 170 dias. Se depender do advogado Marcelo Nobre, nem mil relatos de pagamento de propina serão suficientes para cassar o deputado. "A denúncia que estamos tratando aqui é se Cunha mentiu ou não para a CPI da Petrobras, não sobre vantagem indevida", ele declarou.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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