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    Bernardo Mello Franco

    Céu sem santos

    31/08/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    Julgamento tem discursos da acusação (Reale e Janaína Paschoal) e da defesa (Cardozo)- Sessão de julgamento do impeachment de Dilma, no plenário do Senado, em Brasília (DF)
    Miguel Reale Jr., Janaina Paschoal e José Eduardo Cardozo durante julgamento do impeachment

    BRASÍLIA - O Senado deve cassar nesta quarta (31) o mandato de Dilma Rousseff. Dos quatro presidentes eleitos depois da ditadura militar, ela será a segunda a sair antes da hora. Não é um bom retrospecto para a jovem democracia brasileira.

    O longo processo de impeachment chega ao fim num momento de anticlímax. Na véspera da votação, pouca gente se animou a protestar contra ou a favor em frente ao Congresso. Sem povo na rua, a cena foi dominada pelos advogados, que ocuparam a tribuna pela última vez.

    Pela acusação, a doutora Janaina Paschoal ofereceu o espetáculo esperado. Fez caretas, chorou e disse que pensava nos netos de Dilma ao propor seu afastamento. Na versão dela, foi Deus, e não Eduardo Cunha, quem arregimentou as tropas para derrubar o governo.

    O ex-ministro Miguel Reale Jr. dissertou sobre o "Brasil alegre, do sorriso, do gingado e do samba no pé". Depois reclamou da "esperteza malandra" e disse que o país precisa valorizar a persistência e a labuta. Não parecia, mas ele estava defendendo a destituição da chefe de Estado.

    Pela defesa, o ex-ministro José Eduardo Cardozo também tentou apelar à emoção. Numa passagem, disse que Dilma foi discriminada por ser mulher. Noutra, insistiu em comparar o processo legal do impeachment com a desumanidade da tortura.

    No último dia de debates, a maioria dos votantes não parecia preocupada em discutir decretos ou pedaladas. "É evidente que o que julgamos aqui é um detalhe diante do conjunto da obra", reconheceu o ex-tucano Álvaro Dias, hoje no PV.

    O placar estava praticamente definido, mas alguns senadores ainda se diziam indecisos para arrancar mais cargos no governo. O peemedebista Garibaldi Alves Filho, que foi ministro de Dilma e agora apoia Michel Temer, arriscou uma piada: "Dizia-se que o Senado era o céu. E eu, quando ocupei a presidência desta Casa, disse: pode ser o céu, mas não tem nenhum santo".

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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