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    Bernardo Mello Franco

    A nova guerra de Temer

    02/09/2016 02h00

    Alan Marques/Folhapress
    O presidente interino Michel Temer passa em frente a slogan 'Ordem e Progresso', usado por seu governo
    O presidente Michel Temer (PMDB)

    BRASÍLIA - Depois de vencer a batalha pelo poder, Michel Temer decidiu declarar guerra a uma palavra. No primeiro ato após a confirmação do impeachment, ele reuniu a tropa e determinou que os ministros reajam a cada vez que seu governo for chamado de "golpista".

    "Agora nós não vamos levar ofensas para casa", anunciou, em discurso transmitido pela emissora oficial do Planalto. Ele disse que "as coisas se definiram" e que "é preciso muita firmeza" para defender a reputação do novo regime.

    Com o cenho franzido, Temer descreveu uma situação com a qual a sua equipe passou a conviver. "De vez em quando você vai num lugar e [ouve]: 'Golpista!'. Golpista é você que está contra a Constituição, né?", perguntou, sem esperar resposta.

    "Todos que estão aqui são elegantes. Mas é preciso firmeza, digo eu. E firmeza para quando disserem golpista", ordenou o presidente. "Nós precisamos responder. Agora, falou, nós respondemos. Não pode deixar uma palavra, porque senão eles tentarão desvalorizar", prosseguiu. Ele encerrou a preleção com um aviso: "Não pode tolerar essa espécie de afirmação. Quem tolerar, eu confesso que vou trocar uma ideia sobre isso".

    Temer citou as expressões "golpe" e "golpista" oito vezes, embora tenha manifestado o desejo de retirá-las de circulação. No mesmo discurso, reclamou da imagem do novo governo no "plano internacional". "Tentaram muito e conseguiram, até com algum sucesso, dizer que aqui no Brasil houve um golpe", disse.

    Apesar da queixa do presidente, parte da imprensa estrangeira continua a usar os termos que o incomodam. Nesta quinta (1º), o jornal espanhol "El País" descreveu a derrubada de Dilma Rousseff como um "golpe baixo" na democracia brasileira.

    A guerra de Temer com as palavras pode ser mais longa que a disputa por votos no Congresso. A não ser, é claro, que ele aproveite a reunião do G20 para importar métodos chineses de convencimento.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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