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    Bernardo Mello Franco

    O ministro exaltado

    06/09/2016 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    Brasilia, DF, Brasil 24.05.2016 Presidente interino Michel Temer da posse ao novo ministro da cultura, Marcelo Calero em cerimonia no Palacio do Planalto Foto:Pedro Ladeira/Folhapress cod 4847
    O ministro da Cultura, Marcelo Calero, em cerimônia no Palácio do Planalto

    BRASÍLIA - No fundo de um auditório, um grupo de estudantes inicia o coro de "golpista". O alvo do protesto se exalta e responde com gritos e gestos ofensivos. Parte do público dá as costas ao palco e aplaude os manifestantes. O político ameaça avançar na direção deles, mas é contido por assessores e abandona o evento.

    Aconteceu na sexta passada, num festival de cinema em Petrópolis. Os militantes que iniciaram a provocação eram da juventude do PC do B. A autoridade que reagiu com o fígado era o ministro da Cultura, Marcelo Calero. A cena foi filmada com celulares e viralizou nas redes sociais.

    Segundo participantes do protesto, Calero gritou, com ironia, que era "golpista sim, com muito orgulho". A assessoria do ministro diz que ele berrou "golpistas são vocês". Concedendo-se o benefício da dúvida a Calero, o que sobra é uma autoridade incapaz de manter o controle diante de uma manifestação de estudantes.

    Em nota, o MinC disse que o ministro foi vítima de ação "agressiva e intimidatória". "O público presente ficou estarrecidos [sic] com as manifestações de intolerância", afirmou, apesar de as imagens indicarem outra coisa. O texto não cita nem pede desculpas pelo destempero do ministro.

    Recém-saído do anonimato, Calero deve o cargo a uma sucessão de acasos. Após extinguir o Ministério da Cultura, o novo governo recuou e tentou entregar a pasta uma mulher. A imprensa registrou ao menos seis recusas, inclusive de uma cantora de axé, até o diplomata ser nomeado.

    O início de sua gestão foi marcado por protestos e trapalhadas. Numa delas, o ministro exonerou a diretora da Cinemateca Brasileira alegando combater o "aparelhamento político". Voltou atrás dias depois, ao perceber que demitira uma servidora respeitada e com 30 anos de casa.

    Uma semana antes de ser hostilizado em Petrópolis, Calero foi vaiado no Festival de Gramado. É recomendável que ele se acalme logo. Vêm aí, no mês que vem, o Festival do Rio e a Mostra Internacional de São Paulo.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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