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    Bernardo Mello Franco

    Longe do céu

    14/10/2016 02h00

    Geraldo Bubniak - 12.abr.2016/AGB/Folhapress
    Ex-senador Gim Argello (PTB), preso na 28ª fase da Operação Lava Jato, no IML de Curitiba (PR) para exame de corpo de delito
    Em imagem de abril, o ex-senador Gim Argello (PTB) é preso na 28ª fase da Operação Lava Jato

    BRASÍLIA - O professor Darcy Ribeiro dizia que o Senado é melhor do que o céu, porque não é preciso morrer para frequentá-lo. Melhor do que ser senador, só ser suplente. Além de continuar vivíssimo, o felizardo não tem que passar pelo desconforto de pedir votos para chegar lá.

    Gim Argello foi um suplente de sorte. Passou menos de seis meses na reserva de Joaquim Roriz, o notório ex-governador do Distrito Federal. Acusado de corrupção, o senador renunciou pouco depois da posse. Assim, o substituto foi presenteado com sete anos e meio de mandato.

    Ex-vendedor de carros, Gim levou o gosto por negócios para a política. Começou como assessor de Mário Andreazza, o ministro das obras faraônicas da ditadura. Depois especializou-se na Câmara Legislativa de Brasília, laboratório de escândalos recentes como o mensalão do DEM.

    No Senado, mostrou rapidamente que não seria um suplente qualquer. Aproximou-se de caciques do PMDB, como José Sarney e Renan Calheiros. Em outra frente, bajulou a então ministra Dilma Rousseff até cair nas graças do governo petista.

    Em 2014, o suplente participou de duas CPIs da Petrobras que terminaram em pizza. Mais tarde, o delator Léo Pinheiro contaria à Lava Jato que ele cobrou R$ 7,35 milhões para abafar as investigações e evitar a convocação de empreiteiros. Numa das planilhas da corrupção, Gim era identificado como "Alcoólico", um trocadilho com o seu apelido.

    Nesta quinta (13), o petebista foi condenado a 19 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução da Justiça. Depois de roçar as estrelas, Gim deve passar uma longa temporada longe do céu.

    *

    Todo cidadão tem direito de se indignar com o que lê nos jornais, mas nada justifica a agressão física sofrida por Eduardo Cunha. O correntista suíço que acerte suas contas com a Justiça —mesmo que, no caso dele, a fatura demore tanto a chegar.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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