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    Bernardo Mello Franco

    Um estadista português

    10/01/2017 02h00

    Jose Manuel Ribeiro - 5.jun.2009/Reuters
    FILE PHOTO: Mario Soares, founder of Portugal's Socialist Party and former prime minister and president, waves to supporters at the end of the final rally for the EU parliament elections in Lisbon June 5, 2009. REUTERS/Jose Manuel Ribeiro/File Photo ORG XMIT: RFM05
    O presidente de Portugal Mário Soares, em foto durante evento em 2009

    BRASÍLIA - Mário Soares, o ex-presidente de Portugal que morreu no sábado, estava entre os raros políticos que merecem o título de estadista. Combatente sem armas, ajudou a derrubar a ditadura de quase cinco décadas que mantinha seu país preso a uma bolha de atraso.

    O jornal "Público" definiu o socialista como o "rosto maior da democracia portuguesa". Mas ele também deixou sua marca no exterior: acelerou a libertação das colônias africanas e deu impulso ao projeto de integração da Europa.

    Advogado de presos políticos, Soares se tornou um deles ao contestar o regime de Salazar. Passou 12 vezes pela cadeia até ser deportado, sem julgamento, para a longínqua ilha de São Tomé, na África. Depois se exilou na França, onde articulou a fundação do Partido Socialista.

    Era um defensor intransigente do "socialismo em liberdade". "Antes de ser socialista, sou democrata", repetia, quando colegas da esquerda sonhavam em replicar o modelo soviético. Depois da Revolução dos Cravos, em 1974, enfrentou os comunistas para impedir que Portugal virasse uma ditadura alinhada a Moscou. Vitorioso, tornou-se o primeiro premiê escolhido nas urnas e o primeiro civil na Presidência desde 1926.

    Soares passou uma década no Palácio de Belém. Conquistou o segundo mandato com mais de 70% dos votos. Era o reconhecimento dos portugueses a seu esforço para reduzir as diferenças que separavam o antigo império do resto do continente.

    Nos últimos anos, equilibrava-se entre a defesa do projeto europeu e a crítica à hegemonia da Alemanha no bloco. Defendia suas ideias com ênfase, mas sem perder o humor.

    Em 2013, fui entrevistá-lo na sede da fundação que leva seu nome, em Lisboa. O ex-presidente insistiu que Portugal precisava "sair da crise dentro da Europa". Quando perguntei se era possível enfrentar o predomínio de Berlim, ele não titubeou: "Os alemães só fizeram guerras. Nós descobrimos o mundo. É muito diferente!"

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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