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    Bernardo Mello Franco

    Roubaram até o Mário

    11/01/2017 02h00

    Vanderlei Almeida/AFP
    Aerial view of the Christ the Redeemer statue atop Corcovado Hill and the Mario Filho (Maracana) stadium in Rio de Janeiro, Brazil on May 10, 2013. Rio city will celebrate its 450 anniversary on March 01, 2015. AFP PHOTO /VANDERLEI ALMEIDA ORG XMIT: VAN495
    Vista aérea do Cristo Redentor com o Maracanã ao fundo

    BRASÍLIA - O jornalista Mário Filho foi o maior entusiasta da construção do Maracanã. Liderou uma campanha pela obra com energia militante e fervor patriótico. "Acreditar no estádio é acreditar no Brasil", martelava, nas páginas cor de rosa do saudoso "Jornal dos Sports".

    Depois de morto, o irmão de Nelson Rodrigues emprestaria o nome ao templo do futebol. O colosso de concreto foi rebatizado de estádio Mário Filho, embora os torcedores continuassem a chamá-lo de Maracanã —ou simplesmente Maraca.

    O palco que consagrou os dribles de Garrincha e os gols de Pelé e Zico não existe mais. Depois de sucessivas reformas, foi desfigurado a pretexto de atender aos desejos da Fifa. Uma coalizão de políticos e cartolas rasgou as leis de tombamento, demoliu a marquise histórica e conseguiu encolher até o gramado.

    O preço dos ingressos disparou, e o estádio perdeu o título de maior do mundo, a não ser em superfaturamento. O custo da reforma começou em R$ 700 milhões e chegou à incrível cifra de R$ 1,2 bilhão.

    As operações Lava Jato e Calicute ajudam a explicar os motivos. De acordo com as investigações, o ex-governador Sérgio Cabral cobrou pedágio de 5% sobre o valor total da obra. O Tribunal de Contas do Estado, que fez vistas grossas, é suspeito de embolsar propina de 1%.

    Se a desgraça não era pouca, ficou ainda maior depois da Olimpíada. Quando a festa acabou, o comitê da Rio-2016 entregou o estádio em ruínas, com o campo esburacado, vidros quebrados e um desfalque de 7.000 cadeiras na arquibancada. A Odebrecht quer devolver o elefante branco ao Estado, que não tem dinheiro nem para pagar salários de médicos e professores.

    Abandonado e sem luz, o Maracanã agora é alvo de uma onda de saques. A última vítima foi o busto de Mário Filho, roubado nesta segunda (9). Pensando bem, ele não merecia continuar lá para ver o que fizeram com o estádio.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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