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    Bernardo Mello Franco

    Tiros de chumbinho

    18/01/2017 02h00

    BRASÍLIA - Escalar militares para inspecionar presídios equivale a enfrentar o crime organizado empunhando uma espingarda de chumbinho. É o que diz Walter Maierovitch, desembargador aposentado e ex-secretário nacional Antidrogas.

    O professor assistiu com ceticismo ao anúncio feito nesta terça (17) pelo porta-voz do presidente Michel Temer. "Mais uma vez, estão fazendo uso político das Forças Armadas diante de uma situação de descontrole. Já vimos isso acontecer antes, nos governos Lula e FHC", critica.

    Para Maierovitch, a medida não conterá a barbárie nas cadeias. Ele diverge da ideia de usar as tropas como força auxiliar das polícias estaduais, "que não conseguiram fazer nada para conter a crise". "Isso é populismo. O que o governo pretende, botar soldados de fuzil ao lado dos carcereiros?", questiona.

    Especialista no estudo de máfias, o professor recebeu com igual descrença o Plano Nacional de Segurança Pública, anunciado pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Ele diz ter visto pouca substância e muita pirotecnia no pacote.

    "O que o plano pode fazer diante de presídios superlotados de pequenos traficantes? Estão botando esparadrapo em fratura exposta. Parece que o ministro só está lá para fazer autopromoção", ironiza.

    Na opinião de Maierovitch, o governo deveria encampar ideias mais ousadas, como descriminalizar o uso de drogas e reservar as cadeias para criminosos de alta periculosidade. Ele diz que os últimos presidentes não tiveram coragem de enfrentar o debate quando estavam no poder. "E parece que o Temer amarela a cada dia", acrescenta.

    O professor também não se animou com as declarações da presidente do Supremo, Cármen Lúcia. "Tenho respeito pela ministra, que quer fazer um recenseamento dos presídios. Ótimo, mas o que isso vai adiantar? Quanto tempo vai demorar? As cadeias estão lotadas porque a Justiça não funciona", afirma.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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