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    Bernardo Mello Franco

    O pouso suave de Renan

    02/02/2017 02h00

    Andressa Anholete/AFP
    Os peemedebistas Renan Calheiros (à esq.), ex-presidente do Senado, e Eunício Oliveira, o atual

    BRASÍLIA - Renan Calheiros é um vencedor. Réu em ação por desvio de dinheiro público, alvo de 11 inquéritos no STF, ele acaba de completar o terceiro mandato na presidência do Senado. Seu último discurso ajuda a explicar por que a sucessão de escândalos não foi capaz de derrubá-lo da cadeira.

    Ao se despedir, o peemedebista reafirmou um dos valores mais prezados pelos senadores: o corporativismo. Ele atacou a Lava Jato, reclamou da Polícia Federal e saiu em defesa de colegas que também são acusados de receber propina.

    "A política exige reflexão, responsabilidade e altivez", disse, em tom professoral. Segundo Renan, os políticos não podem ser "uma manada tangida pelo medo e subjugada pela publicidade opressiva". "Jamais seria presidente do Senado pra me conduzir com medo", congratulou-se.

    A título de exaltar a própria coragem, o alagoano passou a criticar as ofensivas da Lava Jato contra senadores suspeitos de corrupção. Ele acusou a operação de promover "conduções coercitivas impróprias", "buscas e apreensões ilegais" e "vazamentos manufaturados".

    O peemedebista não citou nomes, mas falava em defesa de aliados notórios, como o ex-presidente Fernando Collor e o lobista Milton Lyra. Em outra passagem do discurso, ele condenou a prisão do ex-senador Delcídio do Amaral, flagrado numa trama para obstruir as investigações.

    Fiel ao estilo de dizer uma coisa para defender seu oposto, o alagoano jurou defender a "continuidade da Lava Jato". Na mesma frase, pregou a "pacificação" do país. "Depois das turbulências, é hora de um pouso suave para o Brasil", recitou.

    Ninguém sabe o que acontecerá com o Brasil após a delação da Odebrecht, mas o pouso de Renan não poderia ter sido mais suave. No fim do discurso, ele ainda defendeu a eleição de Eunício Oliveira, a quem definiu como "mais que um amigo". O "Índio" ganhou de lavada, com os votos de três quartos dos senadores.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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