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    Bernardo Mello Franco

    A aula do professor Padilha

    16/02/2017 02h00

    Evaristo Sá - 1.jun.2016/AFP
    Brazilian acting President Michel Temer (R) talks to his Chief of Staff Eliseu Padilha during the inauguration celemony of the presidents of three Brazilian public banks and Petrobras at Planalto Palace in Brasilia, on June 1, 2016. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA1185
    O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o presidente da República, Michel Temer

    BRASÍLIA - Na campanha pelo impeachment, Michel Temer prometeu montar um ministério de notáveis. Ele nomearia uma equipe de auxiliares reconhecidos pelo talento, e não pela ficha corrida ou pelo apoio de deputados e senadores.

    O balão de ensaio murchou rapidamente. Ao tomar posse, o presidente imitou os antecessores e loteou a Esplanada em troca de votos no Congresso. Prevaleceu o velho "toma lá, dá cá", no qual ele se especializou como poderoso chefão do PMDB.

    Na semana passada, o ministro Eliseu Padilha relembrou o truque em tom de galhofa. Em palestra para funcionários da Caixa Econômica Federal, ele narrou os bastidores da escolha do ministro da Saúde, Ricardo Barros. A fala foi transcrita pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e vale como uma aula de fisiologismo.

    "Lembram que quando começou a montagem do governo diziam: 'Só queremos nomear ministros que são distinguidos na sua profissão em todo o Brasil, os chamados notáveis'? Aí nós ensaiamos a conversa de convidar um médico famoso em São Paulo, até se propagou que ele ia ser ministro da Saúde", contou.

    Padilha se referia ao respeitado cirurgião Raul Cutait, livre-docente da Faculdade de Medicina da USP. "Aí nós fomos conversar com o PP. 'O Ministério da Saúde é de vocês, mas gostaríamos de ter um ministro da Saúde assim'", prosseguiu.

    Animado com o interesse da plateia, o peemedebista narrou o desfecho do diálogo: "Diz para o presidente que nosso notável é o deputado Ricardo Barros". "Vocês garantem todos os nomes do partido em todas as votações?". "Garantimos". "Então o Ricardo será o notável".

    Há nove meses no cargo, Barros se notabilizou por dizer besteiras e defender os interesses dos planos de saúde. Apesar do desempenho pífio, tem recebido boas notas do professor Padilha. O PP também parece satisfeito. Desde que assumiu o ministério, não deixou de cumprir um dever de casa dado pelo Planalto.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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