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    Bernardo Mello Franco

    Música para assustados

    14/03/2017 02h00

    Caio Guatelli-21.ago.08/Folhapress
    O empresário Emílio Odebrecht
    O empresário Emílio Odebrecht

    BRASÍLIA - Emílio Odebrecht, dono da maior empreiteira do país, disse à Justiça que o caixa dois não nasceu ontem. "Sempre existiu. Desde a minha época, da época do meu pai e também de Marcelo", contou.

    Como o patriarca Norberto fundou a empresa em 1944, isso significa que a prática tem ao menos sete décadas. Sobreviveu a quatro regimes políticos, sete trocas de moeda, múltiplos arranjos partidários.

    "Sempre foi o modelo reinante no país", resumiu Emílio, que deve calçar uma tornozeleira eletrônica durante os próximos quatro anos. Marcelo, o herdeiro, ocupa uma cela em Curitiba desde junho de 2015.

    Nos próximos dias, as delações do clã abrirão um novo capítulo na crise brasileira. A Procuradoria-Geral da República pedirá ao STF a abertura de ao menos 80 inquéritos contra políticos. A lista, ainda secreta, assusta figurões do governo e da oposição.

    Todos se beneficiaram do mesmo "sistema ilegal e ilegítimo de financiamento", para usar a expressão cunhada pela própria Odebrecht.

    A visão do fim da linha produziu um fenômeno curioso. Nas últimas semanas, os exércitos que se enfrentaram na guerra do impeachment passaram a ensaiar uma trégua.

    Líder maior do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ecoou o PT no mensalão e afirmou que o caixa dois é diferente do "crime puro e simples de corrupção". O petista José Eduardo Cardozo, ministro de Dilma, disse nesta segunda (13) que a prática é "eticamente reprovável, mas não se confunde necessariamente com corrupção".

    Era previsível que os políticos buscassem um discurso comum para se salvar. O inusitado é que integrantes da cúpula do Judiciário se associem a essa corrida pela sobrevivência.

    O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, deu a senha. Ele disse à BBC Brasil que o caixa dois "tem que ser desmistificado" e que "vai ter que se fazer alguma coisa". Aos ouvidos mais assustados, deve ter soado como música.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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