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    Bernardo Mello Franco

    Brasileiro, profissão desesperança

    05/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira/Folhapress
    A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) retoma o julgamento de pedido de liberdade provisória (habeas corpus) de José Dirceu, em Brasília (DF)
    A Segunda Turma do STF durante o julgamento do pedido de liberdade provisória de José Dirceu

    BRASÍLIA - O espetáculo da Lava Jato já está em cartaz há mais de três anos, mas ainda não convenceu a plateia de que o país vai mudar. De acordo com o Datafolha, 51% dos brasileiros acham que a corrupção deve continuar igual ou até aumentar. A pesquisa mostra que a sociedade está mais cética —o que não é necessariamente uma má notícia.

    O levantamento retrata um clima de descrença geral. A população apoia e torce pelas investigações, mas não acredita em milagres. Isso reforça a ideia de que a fiscalização do poder deve ser permanente. Não pode se esgotar com uma operação, por mais eficiente que ela pareça.

    A experiência mostra que o ceticismo é sempre a opção mais prudente. O Brasil já festejou o fim da inflação, da corrupção e de outras mazelas ancestrais. Quando a sociedade relaxa, os problemas voltam ao lugar de sempre. Vale até para o mosquito da dengue, que chegou a ser declarado extinto na década de 1950.

    A lista do ministro Edson Fachin mostrou que a contaminação do sistema político é mais grave do que alguns gostariam de acreditar. O propinoduto da Odebrecht abasteceu campanhas de todos os grandes partidos. "Sempre foi o modelo reinante no país", ensinou o dono da empreiteira.

    A pesquisa foi concluída na semana passada, antes de o Supremo Tribunal Federal libertar réus ilustres como o ex-bilionário Eike Batista e o ex-ministro José Dirceu. Se o Datafolha repetir a pergunta hoje, é provável que as respostas sejam ainda mais pessimistas. Num país que já elegeu Fernando Collor como salvador da pátria, esse ceticismo não deixa de ser um alento.

    *

    Ainda segundo o Datafolha, a maioria esmagadora dos brasileiros (73%) acredita que o presidente da República teve participação direta ou indireta no petrolão. É com essa fama que Michel Temer pede à população que se sacrifique para ajudar seu governo a fechar as contas.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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