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    Bernardo Mello Franco

    A entrevista do presidente

    23/05/2017 02h00

    Pedro Ladeira-25.mai/Folhapress
    Brasilia, DF, Brasil, 25/05/2016: Presidente interino Michel Temer acompanhado do ministro Jose Serra (MRE) durante cerimonia de apresentacao de credenciais de embaixadores, no palacio do planalto. Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
    O presidente Michel Temer

    BRASÍLIA - Investigado por suspeita de corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça, Michel Temer quer convencer os brasileiros de que é vítima de uma conspiração motivada por "interesses subterrâneos". Ele repetiu a cantilena na entrevista publicada nesta segunda pela Folha.

    O presidente disse coisas que fariam corar a Velhinha de Taubaté, a personagem do escritor Luis Fernando Verissimo que acreditava em todas as lorotas dos políticos.

    Temer alegou ter recebido Joesley Batista à noite, sem registro na agenda oficial, para discutir os efeitos da Carne Fraca. Isso só seria possível se o empresário fosse dublê de vidente. O encontro do Jaburu aconteceu dez dias antes da operação da PF.

    O presidente disse que "nem sabia" que Joesley era alvo de investigações. Na data da conversa, nenhum leitor de jornais poderia ignorar que o empresário era suspeito de provocar desfalques em fundos de pensão, no FI-FGTS e no BNDES.

    Temer foi questionado sobre Rodrigo Rocha Loures, que foi filmado correndo na rua com uma mala de dinheiro. Respondeu que o deputado é uma pessoa de "muito boa índole".

    Apesar de contestar a integridade do áudio, o presidente confirmou os principais trechos da gravação. "Não é prevaricação se o sr. ouve um empresário na sua casa relatando crimes?", indagaram os repórteres. "Você sabe que não?", devolveu.

    Diante de tantas negativas, o jornal perguntou a Temer qual seria, afinal, a sua culpa no episódio. "Ingenuidade. Fui ingênuo", respondeu.

    A Velhinha de Taubaté ficou famosa como a última brasileira que confiava no governo. Morreu em 2005, quando assistia ao noticiário do mensalão. Na época, Temer exercia o quinto mandato de deputado.

    *

    Os movimentos que diziam não ter "corrupto de estimação" desistiram de ir às ruas no último domingo.

    Seus líderes trocaram a camisa amarela pela chapa branca.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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