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    Bernardo Mello Franco

    Quebrando o tabu

    16/06/2017 02h00

    Giovanni Bello - 19.mai.2016/Folhapress
    O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no Instituto FHC, em São Paulo

    BRASÍLIA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu a Michel Temer que desista de se agarrar à cadeira e faça um "gesto de grandeza" para abreviar a crise. Como o peemedebista se recusa a renunciar, FHC indicou uma saída honrosa: pedir a realização de novas eleições.

    "Ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder, pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto", avisou o tucano.

    Num texto contundente, FHC disse que falta legitimidade a Temer e que o país está vivendo uma "quase anomia" (ausência de lei ou anarquia, na definição do "Houaiss").

    "Preferia atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando, será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular", escreveu.

    O tucano ainda mandou um recado a seu partido: "Se tudo continuar com a desconstrução contínua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o PSDB possa continuar no governo".

    O texto de FHC é importante porque quebra um tabu. Desde o agravamento da crise, políticos, empresários e personalidades que apoiaram o impeachment rejeitam a ideia de novas eleições. A justificativa mais usada é que isso abriria caminho ao retorno de Lula pelo voto popular.

    Para evitar uma volta do PT, seria preferível tapar o nariz e apoiar uma eleição indireta ou a permanência de Temer até 2018. O discurso ignora o alto índice de rejeição ao ex-presidente, mas tem ajudado a bloquear um debate que incomoda o governo.

    Nesta quinta, a professora Janaina Paschoal reforçou a pregação contra as diretas. "Viram FHC trabalhando por Lula de novo?", perguntou, no Twitter, após recomendar uma receita de strudel. Parece um bom momento para o eleitor do PSDB refletir: é melhor ouvir o ex-presidente ou repetir as teses da doutora?

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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