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    Bernardo Mello Franco

    Uma encrenca amazônica

    26/09/2017 02h00

    Lalo de Almeida/Folhapress
    Imigrantes no salão de beleza Jalekatu Angélica, na Galeria Presidente, próxima à praça da República
    Garimpeiro caminha por trilha na Floresta Estadual do Paru (PA), que fica dentro da área da Renca

    BRASÍLIA - Depois de um mês de protestos, Michel Temer desistiu de extinguir a reserva nacional do cobre. O episódio ilustra o funcionamento da usina de crises do Planalto. O governo fabrica encrencas para si próprio, tenta ignorar as reações negativas e só joga a toalha quando o desgaste já está consumado.

    A sequência de erros começou com uma canetada. Sem consultar ninguém, o presidente decretou o fim de uma reserva mineral do tamanho do Espírito Santo. A medida alegrou as mineradoras, mas uniu artistas, celebridades e ambientalistas num levante contra o governo.

    A grita rearticulou setores que buscavam um novo mote para atualizar o "Fora, Temer". A modelo Gisele Bündchen ampliou a mobilização no exterior ao tuitar que o governo estava "leiloando a Amazônia".

    A primeira resposta do Planalto foi marcada pela soberba. O ministro Eliseu Padilha, que responde a inquérito no Supremo por suspeita de crime ambiental, tentou reduzir as críticas a "desinformação e sacanagem".

    O presidente declarou ao SBT que seria "um equívoco" associar o decreto ao desmatamento. Na mesma entrevista, ele defendeu os encontros do Jaburu dizendo que conversa "com quem quiser, na hora que achar mais oportuna e onde quiser".

    Como o governo julgou desnecessário ouvir o Congresso, sua tropa passou dias sem saber como defendê-lo. O Planalto também dispensou os conselhos de Sarney Filho, o ministro decorativo do Meio Ambiente.

    Com a crise instalada, Temer alegou que a extinção da reserva não seria um salvo-conduto para as motosserras. Seu retrospecto conspirou contra o discurso. Ele já legalizou terras de grileiros e tentou reduzir unidades de conservação na floresta.

    Diante do bombardeio, o presidente ensaiou suspender o decreto. Não colou. Depois editou um novo texto. Voltou a apanhar. Agora corria o risco de ver o Senado derrubar a medida. Restou a saída de revogá-la, já com o leite derramado.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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