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    Bernardo Mello Franco

    Uma apatia conveniente

    24/10/2017 02h00

    Marcos Corrêa/Presidência da República
    BRASILIA, DF, BRASIL, 18-09-2017, 09h00: Cerimônia de Posse da Nova Procuradora Geral da República (PGR) Raquel Dodge, com a presença do presidente Michel Temer, da presidente do STF Ministra Carmen Lucia, e dos presidentes da câmara e do senado, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) e senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), na sede da PGR. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Michel Temer cumprimenta a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em cerimônia militar

    BRASÍLIA - A semana da votação que poderia derrubar Michel Temer começou em clima de marasmo. Governo e oposição apostam no arquivamento da segunda denúncia contra o presidente. Se a previsão se confirmar, ele ganhará mais 14 meses de hospedagem grátis no Jaburu.

    Nesta segunda, a Câmara permaneceu vazia. A sessão da tarde foi cancelada por falta de quorum. Mais cedo, um deputado solitário discursou em homenagem à Sociedade Brasileira de Eubiose. Os próximos eventos da entidade serão um simpósio sobre o bem e o mal, um recital de piano e uma oficina de origami.

    Temer compareceu a uma cerimônia militar, mas abriu mão de discursar. Os parlamentares que decidirão seu futuro não estão interessados em palavras, e sim no "Diário Oficial". Nesta terça-feira, deve ser publicado o decreto que oferece desconto de até 60% em multas ambientais.

    A medida é mais um presente para os ruralistas. Na semana passada, a bancada do trator já havia festejado a portaria que afrouxa o combate ao trabalho escravo. Não há limites ao retrocesso para barganhar votos.

    Sem esperança numa zebra, a oposição recolheu as armas. Nos últimos dias, não houve manifestação expressiva em nenhuma capital do país. O ex-presidente Lula também evitou mobilizar sua tropa. Apareceu numa ocupação do MTST e viajou para fazer pré-campanha nos cafundós de Minas Gerais.

    A omissão tem motivo. Apesar do ressentimento com o impeachment, o PT não está interessado na queda de Temer. O partido prefere enfrentar um presidente desgastado em 2018. Por isso, escolheu a tática de cruzar os braços e esperar a eleição.

    Essa apatia também favorece o silêncio dos movimentos verde-amarelos que fizeram barulho no ano passado. Sem pressão para voltar às ruas, a turma permanece escondida atrás da tela do celular. Em vez de protestar contra a corrupção, seus líderes distraem a plateia atacando museus e novelas de TV.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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