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    Bernardo Mello Franco

    Perdoa-me por me traíres

    05/11/2017 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Renan Calheiros e Lula, em Alagoas
    Renan Calheiros e Lula, em Alagoas

    "Estou perdoando os golpistas deste país." O anúncio de Lula, na última segunda-feira, foi muito mais que uma frase de efeito. O ex-presidente deu a senha para que o PT volte a se aliar com partidos que apoiaram o impeachment.

    A dança do acasalamento inclui até o PMDB de Michel Temer. Lula já havia selado as pazes com Renan Calheiros. Agora avança em acertos com peemedebistas que continuam agarrados ao governo, como o presidente do Senado, Eunício Oliveira.

    Separados pelo impeachment, PT e PMDB já ensaiam se unir em ao menos seis Estados. É a retomada de um casamento de interesses, rompido com brigas e acusações de traição. Os petistas se diziam apunhalados pelos ex-parceiros, que romperam o matrimônio para ficar com todos os bens, inclusive o palácio.

    Com o "perdão" de Lula, todos ficam liberados para flertar novamente. O PT pisca para os oligarcas, que controlam máquinas municipais e estaduais. Os peemedebistas retribuem, ansiosos para faturar a popularidade do ex-presidente.

    O dote da união é o novo fundo partidário. Somadas, as duas legendas comerão um quarto do bolo de recursos públicos. Além disso, PT e PMDB continuarão a ter as maiores fatias da propaganda na TV.

    Pragmático, Lula constatou que o discurso do golpe não dá voto. Nas eleições municipais de 2016, o petismo perdeu cerca de 60% de suas prefeituras. Encolheu no Nordeste, foi dizimado no ABC paulista e só venceu em uma capital, a do Acre.

    Isso ajuda a explicar a aposta na reconciliação, mesmo que seja preciso esquecer o que aconteceu no verão passado. "Está em curso a tradição brasileira da recomposição pelo alto", constata o deputado Chico Alencar, do PSOL.

    A próxima tarefa de Lula é amaciar a militância de esquerda que foi às ruas em defesa de Dilma Rousseff. Mas isso ele já fez outras vezes, quando se uniu a inimigos históricos como Fernando Collor e José Sarney.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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