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    Bernardo Mello Franco

    Temer esfriou o próprio café

    08/11/2017 02h00

    Marcos Corrêa/Presidência da República
    Brasilia, DF, Brasil 05.10.2016 A primeira-dama Marcela Temer foi ao PalAcio do Planalto na manhA desta quarta-feira (5), ao lado do presidente Michel Temer, para participar do lanCamento do programa CrianCa Feliz, do qual sera embaixadora Foto:Pedro Ladeira/Folhapress cod 4847
    O presidente Michel Temer

    BRASÍLIA - Em 1994, Itamar Franco fez um pedido insólito para o gabinete presidencial. A poucas semanas de deixar o cargo, ele resolveu brincar com a maldição do café frio que assombra políticos em fim de mandato. Gaiato, encomendou uma garrafa térmica e passou a exibi-la a quem o visitava.

    Michel Temer não tem o mesmo senso de humor, mas esfriou o próprio café nesta segunda-feira. Com um ano e 55 dias pela frente, ele antecipou o fim do governo ao admitir que a reforma da Previdência não deve mais ser aprovada.

    Em discurso para deputados da base, o presidente tentou se eximir de culpa pela provável derrota no Congresso. Preferiu responsabilizar a sociedade e a imprensa, para a surpresa de aliados que o ouviam.

    "Se em um dado momento a sociedade não quer a reforma da Previdência, a mídia não quer a reforma da Previdência e a combate e, naturalmente, o Parlamento, que ecoa as vozes da sociedade, também não quiser aprová-la, paciência", disse.

    Ao buscar culpados fora do palácio, Temer omite que a reforma quase foi aprovada no primeiro semestre, quando já era rejeitada por 71% dos brasileiros. A diferença é que o governo ainda tinha apoio suficiente para aprovar medidas impopulares.

    Quem implodiu esta maioria parlamentar foi o próprio presidente, que abriu o Palácio do Jaburu para ser gravado por Joesley Batista. Seus aliados completaram o serviço ao serem presos com malas e apartamentos abarrotados de dinheiro.

    Temer queimou o capital político que lhe restava para barrar as duas denúncias da Procuradoria. Conseguiu se manter na cadeira, mas perdeu as condições de cumprir a principal promessa que fez ao mercado.

    *

    Depois de ensaiar uma delação, Eduardo Cunha agora diz que Temer foi vítima de "prova forjada". Com um defensor desse, o presidente não precisa de ninguém para acusá-lo.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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