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    Bernardo Mello Franco

    O lulômetro está de volta

    26/11/2017 02h00

    BRASÍLIA - Uma vitória de Lula pode derrubar a Bolsa e levar o dólar a R$ 4. A estimativa foi divulgada pela corretora XP, que disse ter ouvido 211 investidores. É a volta do terrorismo de mercado, que sempre tenta ditar o resultado das eleições.

    Em 1989, o presidente da Fiesp anunciou que 800 mil empresários deixariam o país se Lula fosse eleito. A frase facilitou a vitória de Fernando Collor, que confiscou a poupança e deixou a economia em frangalhos.

    Em 2002, o Goldman Sachs lançou o "lulômetro" e projetou um câmbio nas alturas. O megainvestidor George Soros disse que o Brasil teria que escolher entre o tucano José Serra e o caos. O petista assumiu com o dólar a R$ 3,52 e voltou para São Bernardo com a cotação a R$ 1,66.

    O novo estudo da XP sugere que a vitória de Lula em 2018 faria a Bolsa despencar para 55 mil pontos. A moeda americana poderia bater os R$ 4,10. O cenário muda da água para o Romanée-Conti em caso de vitória de Geraldo Alckmin ou Luciano Huck. O mercado fica ainda mais eufórico com a hipótese João Doria. O prefeito murchou nas pesquisas, mas ainda é o queridinho da Faria Lima.

    Há muitas formas de se fazer terrorismo eleitoral. Em 2014, a propaganda do PT espalhou que a comida sumiria do prato dos pobres se Dilma Rousseff fosse derrotada por Marina Silva. A petista se reelegeu e produziu a maior recessão do pós-guerra.

    No terrorismo de mercado, o truque é substituir a opinião de milhões de eleitores pelo desejo de um punhado de financistas. É um jogo em que a banca sempre vence. Mesmo que caia no ridículo, a profecia ajudará alguns espertos a enriquecer.

    Outro dado divulgado na sexta-feira mostra como o mercado costuma confundir análise com torcida. Para 46%, Alckmin será o eleito. Pode ser que isso aconteça, mas hoje o tucano tem apenas 8% das intenções de voto. Se os investidores ouvidos pela XP acreditassem no que dizem, não se esforçariam tanto para lançar Doria e Huck no caldeirão de 2018.

    bernardo mello franco

    Jornalista, assina a coluna Brasília. Na Folha, foi correspondente em Londres e editor interino do 'Painel'.

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