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    Carlos Heitor Cony

    Saco de gatos

    21/09/2014 02h00

    RIO DE JANEIRO - Para falar a verdade: estou ficando cheio das declarações dos principais candidatos à Presidência da República. São mais ou menos óbvias, e todas constituem um Frankenstein de promessas, pedaços otimistas mas na maior parte inviáveis, eleitoreiras e até mesmo contraditórias.

    Não pretendo engrossar este saco de gatos. Na realidade, o que vai pesar na hora do voto é a afinidade pessoal com os candidatos, levando em conta principalmente a carreira (ou o passado) da cada um. A fidelidade partidária é utópica e não é levada a sério nem pelos candidatos nem pelos eleitores. Na prática, com pequenas exceções, não temos partidos em nível federal ou estadual.

    O apoio e o voto em si são condicionados pelos sobas de cada partido ou facção. Durante a campanha, a chamada "formação de palanque" não implica em programas de governo, mas em formação de caixas dois, tempo de televisão e questões estaduais ou municipais. As alianças são pontuais e geralmente provisórias.

    Bem, a democracia representativa tem esta pedra no sapato. Se por um lado garante a liberdade política e, sobretudo, a liberdade de opinião (com inúmeras exceções e interpretações), de outro é a fonte inesgotável da corrupção e justificação para que tudo continue no mesmo.

    Alguns absurdos costumam acontecer criando até mesmo crises institucionais, como no caso da eleição de Jânio Quadros e João Goulart para presidente e vice-presidente, respectivamente, cujo resultado seria o golpe de 1964 e a ditadura.

    Não tenho autoridade nem conhecimento bastantes para propor a remoção dessa pedra no sapato, ou, como queiram, desse saco de gatos. Mas acredito que os entendidos, os cientistas políticos que hoje ocupam a televisão e o estado maior do universo acadêmico, encontrem uma saída que acabe com esta aberração.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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