• Colunistas

    Sunday, 19-May-2024 14:17:26 -03
    Carlos Heitor Cony

    O DNA da corrupção

    23/11/2014 02h00

    RIO DE JANEIRO - Já tivemos a saúva como inimiga preferencial. Ela não acabou com o Brasil, mas fez o que pôde. Policarpo Quaresma e Macunaíma deixaram duas advertências históricas: derrotou o personagem de Lima Barreto que acreditava no Brasil e serviu de mantra para Mário de Andrade lançar seu famoso anátema, "pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são".

    A saúva foi para o banco dos reservas (pode entrar em campo a qualquer hora), mas a titular da posição, muito mais maléfica do que a saúva, é a corrupção que faz parte do nosso DNA. Basta consultar jornais, revistas, TVs e internet para identificarmos o micróbio que pode nos levar a um estado terminal.

    Falo em DNA porque o vírus já se entranhou no organismo da nação. Para simplificar: se não fossem as propinas ainda estaríamos nus, arco e flecha na mão, esperando as caravelas de Cabral, não o governador, mas o almirante.

    Um rápido e incompleto passeio por nossa história acusa sordidamente que JK, para construir Brasília, tornou-se a sétima fortuna do mundo. Do mesmo modo o prefeito Mendes de Morais jogava pôquer todas as noites com os empreiteiros que estavam construindo o Maracanã. O mesmo foi dito do ministro Mario Andreazza, que fez a ponte Rio-Niterói.

    Itaipu teria sido uma corrupção binacional, enriqueceu dois ditadores que, por acaso ou não, eram militares no topo da carreira. O morro do Castelo desapareceu da paisagem porque os burros da Limpeza Pública puxavam, dia e noite, as carroças com a terra do desmonte. Foram tais e tantos que formaram a maior concentração de burros no nosso planeta, mesmo excetuando os burros que estão por aí.

    O Paulo Francis morreu subitamente porque denunciou repetidas vezes que a alta cúpula da Petrobras superou saúvas e burros.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024