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    Carlos Heitor Cony

    Lava Jato na Beija-Flor

    22/02/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - Santo Agostinho disse que um bom exemplo é difícil de ser imitado, enquanto o mau exemplo é facílimo. Sabe-se que a Beija-Flor neste Carnaval recebeu uma ajuda substancial do ditador da Guiné Equatorial. Ganhou sem contestação, repetindo a operação Lava Jato que financiou a eleição de vários parlamentares, uma corrupção que está sendo apurada e provavelmente será punida.

    O imperador Vespasiano, ao inaugurar melhoramentos em Roma, quando mandou fazer mictórios e privadas nos lugares mais frequentados, taxou com severos impostos os usuários daqueles benefícios. O filho dele, o futuro imperador Tito, reclamou daquele exagero fiscal. Vespasiano se explicou: "Pecunia non olet" (dinheiro não fede).

    Os partidos e políticos que pediram e aceitaram dinheiro de empresas na última eleição também podiam repetir a frase de Vespasiano: "dinheiro não fede". Do mesmo modo, a Beija-Flor de gloriosas tradições desde os tempos de Joãosinho Trinta, pediu e aceitou a ajuda de uma ditadura cruel. Mesmo que fosse do Vaticano, a vitória daquela escola de samba lembra a operação Lava Jato, manchando o desfile deste Carnaval.

    O mau exemplo de que fala Santo Agostinho funcionou esplendidamente. Se a política pode ser financiada por quem quer que seja, nada de admirar que uma escola de samba também o seja. Não faz muito, o dinheiro do jogo do bicho era disputado por quase todas as rivais da Beija-Flor.

    Não estou pedindo uma CPI sobre a doação da Guiné. Entre o dinheiro dos bicheiros, que de certa forma pode ser explicado, a generosidade de um ditador cruel pode fazer com que a Arábia Saudita e até mesmo a máfia participem da vitória de uma nova escola, cujo lema erudito pode ser "Pecunia non olet".

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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