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    Carlos Heitor Cony

    A dança do tempo

    24/02/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - O Carnaval deste ano, uma festa popular que começa a ser contestada por aqueles que são ruins da cabeça ou doentes do pé, não foi pior nem melhor que outros Carnavais mais recentes, digamos, dos últimos tempos.

    Ponto fantasticamente positivo foram os blocos que pouco a pouco estão tomando as ruas, praças e praias, onde o Carnaval ameaça não ressuscitar o passado, mas voltar às suas origens e alimentar o futuro.

    A começar pela trilha sonora, basicamente feita dentro de um conclave, onde os cardeais de cada escola escolhem os sambas-enredo. Até que, vez ou outra, a turma dá uma dentro e penetra no sagrado átrio dos grandes sucessos populares: Carmen Miranda, Chica da Silva,Tiradentes etc., que cumpriram uma das regras que impõem temas brasileiros para os enredos de cada escola.

    Se, do meio da confusão, sobem uma "Jardineira", uma "Chiquita Bacana", "O Teu Cabelo Não Nega", "Você Pensa que Cachaça é Água", "Sassaricando", "Mulata Bossa-Nova", "Olha a Cabeleira do Zezé", "É com Esse que Eu Vou", predominavam as marchinhas, gênero tipicamente carnavalesco.

    Bom mesmo é quando determinado bloco de sujos inventa sua própria trilha musical. Tempos atrás, estava tomando um chope no Barril 1800, quando passou um bloco de índios esmulambados (blocos de índio são os mais fedorentos), cantando um estribilho que nunca esqueci: "Lá no Xingu a coisa agora está preta, índio só quer saber de bater punheta".

    Não sou saudosista, nem considero o Carnaval de hoje pior do que os antigos. Os tempos mudam e nós mudamos com eles ("Tempora mutantur et nos in illis").

    PS: Se, em vez da Guiné, a Unesco doasse alguns dólares para uma escola de samba em Barra do Piraí, a vitória da Beija-Flor entraria pelo cano.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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