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    Carlos Heitor Cony

    O preço do diabo

    23/06/2015 02h00

    RIO DE JANEIRO - No "Primeiro Livro de Leitura", que era adotado nos cursos fundamentais de antigamente, havia um texto em que o Diabo compraria a alma de um homem, desde que o cara fizesse uma das três opções que ofereceu: matar a mãe, violentar a irmã ou tornar-se bêbado permanente. Em troca, teria tudo o que desejasse. O cara aceitou a última opção: embriagou-se, matou a mãe, estuprou a irmã e foi parar no inferno.

    Nos dias de hoje, a proposta do diabo seria atualizada: ele daria tudo a quem entrasse na política partidária. O sujeito perguntaria: "Serve o PT?". O Pai das Trevas rejubilou-se: "É o melhor". O sujeito fez todas as misérias pretendidas e o demônio levou a alma do desgraçado.

    Evidente que a história foi inventada por alguém que queria acabar com as misérias do mundo e dos homens. Daí que continua atual. A vida política equivale a um vício que faz qualquer um fazer todas as misérias possíveis, desde que obtenha algum lucro político ou pessoal.

    Bem verdade que qualquer partido serviria para negociar sua alma. No entanto, no panorama atual, e se o demônio estiver por dentro da realidade brasileira, qualquer partido, uns mais que os outros, serviria para a troca pretendida. Ao contrário de Fausto, que desejava a juventude eterna, e de quebra o amor de alguma Margarida disponível ou não, o profissional que se entrega incondicionalmente a um partido despreza a juventude eterna mas não despreza as Margaridas que lhe são oferecidas.

    Na perturbadora realidade do nosso tempo, a solução que mais agradaria ao diabo seria o PT. Por várias e ostensivas razões, principalmente os últimos escândalos que envergonham o Brasil e cada um de nós. Material de troca não falta. Todos temos mães e irmãs, umas pelas outras, expostas a qualquer sacrifício pelo bem da pátria, ou ao menos, para o bem da família.

    carlos heitor cony

    Escreveu até dezembro de 2017
    carlos heitor cony

    É membro da ABL. Começou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. É autor de 17 romances e diversas adaptações de clássicos.

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